De onde veio a força eleitoral de Jerônimo?
BahiaTrês fatores foram decisivos para Jerônimo Rodrigues (PT) no primeiro turno
Ao lado de Lula, a Bahia possui um padrão de representação política desde as eleições de 2002, quando o petista venceu as eleições presidenciais, transferindo para Jaques Wagner uma parte dos seus votos, o que levou Wagner a alcançar 38,50%, praticamente a mesma parte do eleitorado com a qual contou o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) na disputa do primeiro turno ao governo baiano nestas eleições.
Na eleição de 2002, Lula obteve na Bahia no primeiro turno 55,30% e em 2006 alcançou 66,65%, algo decisivo para a transferência de votos a Wagner, assegurando a sua eleição no primeiro turno contra Paulo Souto (PFL), consolidando uma crise profunda do carlismo sob a qual ACM Neto já despontava como o herdeiro natural em substituição ao seu avô, Antônio Carlos Magalhães (ACM).
De lá para cá, a força do PT baiano esteve alinhada ao lulismo e ao desempenho estadual dos governos de Wagner e do seu sucessor, o atual governador Rui Costa (PT), ou seja, governos bem avaliados tendem à reeleição ou a facilitar a corrida eleitoral dos sucessores, algo visto no domingo passado em todas as regiões do país. Nas eleições passadas, o fenômeno do governismo levou Rui Costa a ser mais bem votado do que Fernando Haddad (PT), o petista baiano foi reeleito com 75,50% e Haddad ficou com 60,28%, sendo a única eleição na Bahia desde a redemocratização que um candidato petista ao governo obteve uma grande diferença de votos a mais que a candidatura do partido nas eleições presidenciais.
Três fatores foram decisivos para Jerônimo Rodrigues (PT) no primeiro turno: a boa avaliação do governo Rui Costa; o apoio de uma grande quantidade de prefeitos, o que garantiu a sua vitória em 351 municípios e, por fim, a força de Lula nas urnas em um alinhamento nacional.
Em que pese o fato de somente a AtlasIntel ter detectado com mais precisão a virada de Jerônimo, todos estes três fatores acima foram determinantes para o distanciamento do petista em relação a seu adversário, chegando a 49,45%, faltando pouquíssimos votos para ganhar no primeiro turno.
A força nacional do PT refletiu-se na arena estadual sob a qual Jerônimo foi bem nos principais colégios eleitorais baianos. Em Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista e Camaçari, ACM Neto venceu, mas com uma diferença muito menor do que projetara a sua coordenação de campanha. Com Lula também no segundo turno, a situação para o ex-prefeito torna-se “catastrófica” em um cenário muito adverso, o que tem sido confirmado pela debandada de aliados, que calculam a força de Lula para decidir as eleições ao governo baiano. Conta também a distância de 9 pp. de Jerônimo. Com Lula no páreo, a diferença pode se ampliar em ambas as disputas.
*Cláudio André de Souza é professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições”.