Em Salvador, Censo faz trabalho para contar a população indígena em contexto urbano

Salvador
Em Salvador, Censo faz trabalho para contar a população indígena em contexto urbano

Foto: Heitor Montes/BA

O IBGE tem buscado realizar a  contabilização da população indígena em contexto urbano. Após chegar a uma rua movimentada, com muitos carros, pedestres e pequenas casas comerciais, dobra-se à esquerda e se desce uma longa escadaria, com casas dos dois lados. É nesse local, no bairro de Alto das Pombas, em Salvador, que vive Genilson Taquari.

 

De acordo com o IBGE, indígena da etnia Pataxó, Taquari, como é conhecido por todos, mora na capital baiana há 10 anos. Natural da aldeia Coroa Vermelha, no município de Santa Cruz Cabrália (a 755 km de Salvador), no Sul da Bahia, ele é estudante de direito na Universidade Federal da Bahia (UFBA).

 

Taquari é um indígena em contexto urbano e explicou o preconceito que pessoas como ele sofrem: “A sociedade brasileira não está preparada para compreender o indígena. O pouco de conhecimento que se tem aprendido na escola é ainda muito incipiente, muitas vezes parte de senso comum”, diz.

 

“Há uma série de distorções. Aí você acha que indígena só é aquele que usa o cocar. Se não estiver de cocar, acham que ele não é indígena. Se ele não tiver um cabelo liso e cortado em formato de cuia. Aí acha que ele tem que ser assim, que ele tem que estar pintado…”, completa.

 

Taquari não está sozinho. Segundo o Censo 2010, um pouco mais de um terço dos 896.917 declarados indígenas do país vivia na zona urbana (36,22%). Se este índice era baixo na região Norte (17,96%), ficava em quase metade no Nordeste (49,15%) e chegava muito perto dos 80% no Sudeste (79,96%). Como exemplo, São Paulo/SP era o 4º município com a maior população indígena do país, o maior fora da Região Norte, com 12.987 habitantes.

 

Além disso, 4 em cada 10 indígenas viviam fora de terras oficialmente demarcadas no último recenseamento (42,32%). Na Bahia, este índice chegava a 72,03%. Salvador era o terceiro município com a maior população indígena vivendo fora de áreas oficialmente demarcadas, com 7.563 habitantes autodeclarados, abaixo apenas dos números registrados em São Paulo/SP (12.024) e São Gabriel da Cachoeira/AM (11.682).

 

É o caso também de Jerry Matalawê, que mora no bairro de Piatã. Há 15 anos, o Pataxó, nascido na Terra Indígena Barra Velha, na região do município de Prado (a 789 km de Salvador), também no Sul do estado, se mudou a trabalho para Salvador com a esposa Merk Pataxó e a filha do casal, Am’ni Pataxó, oriundas da aldeia Coroa Vermelha.

 

“A gente tem que pensar que os povos indígenas, do ponto de vista da sua vivência, o que nós chamamos do ‘bem viver’, costuma estar sempre relacionada ao território. A ideia de coletividade, a ideia de um cuidar do outro. E sair do território indígena e estar na cidade nem sempre é vontade própria”, conta.

 

Coordenador de Políticas para os Povos Indígenas na Bahia, Jerry entende estar numa posição privilegiada em relação à maioria dos indígenas que migraram para a zona urbana: “Nós sabemos que a grande maioria dos parentes que vieram para cá, vêm sozinhos, e aí perdem o contato com a questão da cultura, da língua e dessa ideia da coletividade”, diz.

 

“Viver no território urbano traz muitos desafios. Porque nos coloca numa situação de cumprir aquilo que o colonizador sempre quis, que é o ideal da integração, ou seja, de que a gente começa a vivenciar e começa a ficar muito parecido com os não-indígenas”, completa Jerry.

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