‘Para obter a paz é preciso assassinar os assassinos’, diz porta-voz das Forças de Defesa de Israel

Internacionais

O porta-voz das Forças de Defesa de Israel, o major Roni Kaplan, diz que o país não queria a guerra com o Hamas, mas que, para obter a paz na região, é preciso “assassinar os assassinos”.

“Temos que desmantelar o grupo terrorista Hamas. Eles são os que trouxeram a maldição para toda essa região”, afirma. Kaplan conversou com a coluna por telefone, na terça (17), desde Tel Aviv.

Na segunda (16), Israel negou a existência de um cessar-fogo temporário com o Hamas para a saída de brasileiros e cidadãos de outros países pela cidade de Rafah, ao sul da Faixa de Gaza, na fronteira com o Egito.

Questionado sobre como fazer a retirada desses civis da região, o porta-voz diz que é o Hamas que governa o território. “Eles são os responsáveis por toda a população.”

“A maioria das estruturas terroristas do Hamas está na zona norte da Faixa de Gaza. Mas, se a gente ver um terrorista do Hamas responsável pelo massacre de civis israelenses de 7 de outubro também na zona de Rafah, Israel vai neutralizar esse terrorista. Porque esse terrorista matou, assassinou e violentou israelenses”, afirma.

Kaplan diz ainda que Israel tem feito todos os esforços possíveis para minimizar danos a civis, e cita como exemplo a ordem para que a população deixe o norte de Gaza por ser uma zona de combate. “Mas o Hamas comete um crime duplo de guerra: ataca indiscriminadamente civis israelenses e usa os habitantes da Faixa de Gaza como escudos humanos.”

O porta-voz diz também que os soldados israelenses, ao mesmo tempo em que estão de luto, seguem motivados a ganhar o conflito.

Ele afirma ainda que não têm dúvidas de que houve uma falha “muito grande” de Israel ao não conseguir prever o ataque de Hamas, mas que no momento o foco do país é lutar para restabelecer a segurança de seus cidadãos. “Se esses assassinos ganharem de Israel, o terrorismo ganhará o mundo livre.”


Quais são as condições enfrentadas pelas Forças de Defesa de Israel neste momento? Aqueles que estão sob o comando do senhor relatam que tipo de sentimento em relação a essa guerra?
As forças de defesa de Israel continuam respondendo aos brutais ataques do dia 7 de outubro com o objetivo de desmantelar o Hamas e eliminar suas capacidades administrativas e militares para assegurar que esse tipo de ataque, que foi o pior massacre na história do Estado de Israel moderno, nunca mais volte a acontecer.

Por um lado, estamos de luto. Essa é uma tragédia nacional. Os soldados têm muitos amigos e amigas que foram assassinados, sequestrados ou que estão feridos neste momento.

Por outro lado, estamos motivados a superar essa situação, e nosso espírito, de amor à vida, vai se sobrepor ao espírito de morte do Hamas.

Na terça, o major Aharon Haliva, chefe da inteligência militar de Israel, assumiu a culpa por não ter descoberto o plano de atentado do Hamas. Como o senhor avalia a carta enviada por ele a militares?
Nesse momento, estamos centrados em lutar. Estamos lutando para restaurar a segurança do nosso povo, da nossa cidadania, do nosso país. Não estamos aqui para fazer avaliações ou especulações. A forma que os soldados israelenses se autoavaliam é tomando a responsabilidade por suas ações. Isso é parte da nossa cultura.

Autoridades israelenses não descartam a possibilidade de abrir uma investigação para avaliar quais foram as falhas de segurança que levaram à invasão pelo Hamas.
Não tenho nenhum tipo de dúvida de que houve uma falha muito grande tanto na defesa como na inteligência [de Israel]. Há uma diferença importante entre o que aconteceu e o que deveria ter acontecido.

Israel, sendo um Estado de Direito, uma democracia, vai ter uma comissão imparcial e independente que vai fazer esse tipo de investigação. E vamos aprender todas as lições. Mas, nesse mesmo momento, a gente não está centrado no passado. A gente está centrado no presente e no futuro e queremos desmantelar a infraestrutura administrativa e militar do Hamas na Faixa de Gaza.

Críticos de uma possível invasão israelense à Faixa de Gaza apontam que essa incursão pode causar um desastre humanitário sem precedentes. Uma invasão terrestre é realmente imprescindível para que Israel defenda o seu território?
Eu não posso entrar em detalhes de nossa operação. O que as Forças de Defesa de Israel estão fazendo há mais de 87 horas é solicitar a civis do norte da faixa de Gaza que evacuem esse local, porque é uma zona de combate.

Apesar disso, o Hamas está investindo muitos esforços para impedir que a gente evacue essa região. Por quê? Porque Israel utiliza o seu exército para defender os seus civis. O Hamas utiliza civis para defender a sua infraestrutura terrorista, incluindo túneis muito profundos que estão no norte da Faixa de Gaza.

Israel está fazendo isso porque o Hamas declarou a guerra.

Há mulheres que foram violentadas antes de serem assassinadas. E violentadas depois de serem assassinadas

Nós fazemos tudo o que está dentro das nossas possibilidades para minimizar os danos civis, e para isso temos que ingressar por terra. Porque por ar não tem como minimizar os danos civis.

Estamos colocando o melhor do nosso povo para ingressar na Faixa de Gaza e desmantelar o Hamas porque não se pode viver ao lado deles, porque eles são assassinos e genocidas.

As Forças de Defesa de Israel afirmam que não são diretamente responsáveis pela situação dos brasileiros que tentam sair de Gaza pela fronteira do Egito. O que precisa ser feito para que esses cidadãos saiam em segurança de Gaza e sejam repatriados no Brasil?
Essa é uma boa pergunta para o porta-voz do governo do Egito e do Hamas. Teria que perguntar a eles. Israel não é parte.

Israel não concordou com nenhum tipo de cessar-fogo. A maioria das estruturas terroristas do Hamas está na zona norte da Faixa de Gaza. Mas, se a gente ver um terrorista do Hamas responsável pelo massacre de civis israelenses, também na zona de Rafah, Israel vai neutralizar esse terrorista, porque ele matou, assassinou, violentou israelenses no dia 7 de outubro.

Repito, a Faixa de Gaza está governada por um grupo terrorista chamado Hamas. E eles são os responsáveis por toda a população do local.

Israel tem um dos sistemas de segurança e de defesa mais avançados do mundo. Não seria possível usar métodos de inteligências, em vez de promover ações que matam crianças, mulheres e idosos do lado palestino?
Sim, efetivamente, existem formas. Mandamos centenas de milhares de panfletos, fizemos milhares de chamadas telefônicas, publicamos nas redes sociais, publicamos também na rádio para as pessoas deixarem o norte de Gaza. Você pode ver que muita gente, também brasileiros, foram para o sul. Israel está fazendo enormes esforços para minimizar os danos aos civis na Faixa de Gaza. Mas o Hamas comete um crime duplo de guerra, ataca indiscriminadamente civis israelenses e usa os habitantes da Faixa de Gaza como escudos humanos.

O Escritório das Nações Unidas para os Direitos Humanos [OHCHR, na sigla em inglês] disse na terça-feira (17) que o cerco de Israel à Faixa de Gaza e a ordem para palestinos se deslocarem para o sul do território podem violar o direito internacional.
O violento ataque do Hamas que atacou deliberadamente as cidades israelenses e as atrocidades cometidas pelo Hamas e outros terroristas, entre elas assassinatos, torturas, sequestros e muitos outros crimes, são violações flagrantes do direito internacional. Esses horrendos ataques constituem os crimes mais graves do direito internacional, definidos como crimes de guerra e crimes de lesa humanidade, equivalentes ao crime de genocídio.

O Hamas tem a obrigação absoluta de liberar imediatamente todos os sequestrados na Faixa de Gaza.

É necessário esse cerco? Brasileiros e palestinos na fronteira relatam que estão ficando sem alimento, sem água para beber.
É importante que você entenda o porquê de isso acontecer. Você sabe, por exemplo, que o Hamas roubou 36 mil litros de combustível de um hospital no norte da Faixa de Gaza, e isso também quem disse foi a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA)? Todo esse combustível dava para proporcionar dez dias de água para todos os habitantes da Faixa de Gaza, por meio da dessalinização da água. Mas o Hamas roubou isso para a sua guerra.

Israel não tem obrigação de, no meio de uma guerra, proporcionar meios ao território inimigo, inclusive energia elétrica e água, mas o país faz isso.

Israel proporciona meios de eletricidade e meios de água ao Hamas, e o Hamas pagou isso a Israel. Mas não com dinheiro. Pagou assassinando, violentando, massacrando. É o maior massacre e a maior matança dos judeus em 24 horas desde o último dia do Holocausto, desde o último dia da Segunda Guerra Mundial.

Como o senhor vê a possibilidade de a guerra envolver outros países da região? O líder do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, pediu uma reação contra Israel.
O Hamas e o Irã têm a esperança de que tudo isso seja arrastado para uma guerra de grandes proporções e que envolva todo o Oriente Médio. Nós somos uma cultura que ama a vida, e eles são uma cultura que não dá valor à vida, como nos demonstraram no dia 7 de outubro. Então, para eles, é uma guerra a mais. Mas nós somos gente de paz.

A República do Líbano e também os cidadãos do Líbano têm que se perguntar se eles querem pôr em risco o futuro do seu país, o futuro dos seus civis, o futuro do seu governo, para ajudar o Hamas a abrir outra frente contra Israel nesta guerra e arrastar todo o Oriente Médio a uma guerra regional.

Como o senhor vê os próximos passos da guerra?
Não posso compartilhar operações porque são secretas. Se esses assassinos ganharem de Israel, o terrorismo ganhará o mundo livre. Nós não estamos aqui somente pela minha família. Nós estamos aqui, na linha de frente da luta, contra o terrorismo no mundo ocidental. Se o terrorismo ganhar, Deus me livre o que vai acontecer com o mundo.

 

Mônica Bergamo/Folhapress

Deixe sua avaliação!

Mais Notícias de Internacionais