Mais do que vice, Cristina Kirchner terá atuação no Congresso e em nomeação de juízes
Internacionaispor Sylvia Colombo | Folhapress
Muito se discutiu sobre qual será a atuação de Cristina Kirchner em sua volta ao poder na Argentina, agora na condição de vice do presidente eleito, Alberto Fernández.
Agora, prestes a assumir o cargo, no final da manhã desta terça-feira (10), o cenário está delineado. A ex-mandatária terá função estratégica junto ao Congresso e aos ministérios e também coordenará a relação do Executivo com as províncias, responsabilidade que concedeu a si mesma.
Segundo a lei argentina, o vice-presidente comanda as sessões do Senado. Cristina, porém, fará um pouco mais do que isso. Assim como designou Fernández para ser o candidato a presidente em sua chapa, ela e seu grupo montaram as listas de candidatos à Câmara de Deputados e ao Senado.
Em ambas as Casas, o peronismo terá maior número de vagas, reforçado pela virada de lado de três congressistas da aliança de Macri (Juntos por el Cambio), que se aliaram ao bloco governista.
Na Câmara de Deputados, terá como líder da bancada Sergio Massa, que foi chefe de gabinete no primeiro mandato de Cristina e abdicou da candidatura presidencial neste ano para apoiar a chapa kirchnerista.
Outro com papel importante será Máximo Kirchner, filho de Cristina e líder da agrupação La Cámpora, que contará com representantes em postos-chave -como no Ministério do Interior, a ser ocupado por Eduardo “Wado” de Pedro.
Massa e Máximo garantem a influência de Cristina em duas comissões estratégicas no Congresso. Na do orçamento do país, a vice-presidente eleita terá como influenciar os repasses para as províncias, o que a coloca como operadora política de Fernández junto aos governadores.
A outra área à qual Cristina terá acesso direto é a da designação de juízes. Uma reforma, de 2017, passou a exigir aval do Congresso para algumas nomeações, como em caso de falta dos magistrados ou de substituição dos titulares. Esse ponto é crucial, uma vez que ela é investigada em nove casos de corrupção. Ainda há outros processos que envolvem líderes kirchneristas.
No gabinete de ministros, há nomes leais à ex-presidente, como Agustín Rossi (Defesa), Felipe Solá (Relações Exteriores), Mercedes Marcó del Pont (Receita Federal), além de Eduardo “Wado” de Pedro (Interior).
A decisão de colocar Martín Guzmán como ministro da Economia se deu, também, por insistência de Cristina, uma vez que é seguidora do ganhador do Nobel Joseph Stiglitz, padrinho do escolhido.
Foi ela quem deu a palavra final entre os que disputavam a vaga.
Portanto, quando Cristina subir nesta terça ao palco da Praça de Maio, o fará não apenas como quem assume o cargo de vice-presidente. Será também a líder do peronismo dentro do atual governo.
Por mais que tenha havido um entendimento entre ela e Fernández sobre quem aparece em primeiro plano e quem atua nos bastidores, basta olhar as decisões dessas últimas semanas para que fique claro que Cristina será bem mais do que uma vice-presidente neste governo