Abertura da COP27 trava em discussão sobre financiamento para perdas e danos

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por Phillippe Watanabe e Ana Carolina Amaral | Folhapress

Abertura da COP27 trava em discussão sobre financiamento para perdas e danos

Foto: Reprodução

A COP27, conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre mudanças climáticas, apelidada como a “COP da implementação”, começou neste domingo (6) em Sharm El-Sheikh, no Egito, “travada” por discussões que levariam à concretização da inserção de financiamento para perdas e danos na agenda oficial do evento. A evolução quanto ao tema é tida como ponto essencial para o sucesso da atual COP.
A inclusão já era esperada para o início dos trabalhos da COP27, mas, mesmo assim, os representantes dos Estados adentraram a madrugada de sábado para domingo discutindo o detalhamento da inclusão de perdas e danos na agenda. É a primeira vez que o financiamento associado ao tema entra oficialmente na agenda de uma COP.
No primeiro dia da conferência, a questão foi amplamente tratada como uma vitória. O presidente da COP27, Sameh Shoukry, que é ministro das Relações Exteriores do regime ditatorial do presidente Abdel Fattah al-Sisi, falou sobre um esforço hercúleo de consultas entre os países nas 48 horas anteriores.
“É uma questão reconhecida pela maior parte da comunidade internacional como fundamental”, afirmou Shoukry em entrevista coletiva após a abertura oficial da COP27.
“A questão das perdas e danos precisa ser propriamente abordada, e o tempo chegou para o fazermos. Os países, especialmente os mais vulneráveis e menos desenvolvidos, precisam receber o apoio necessário para atingir suas metas climáticas. Dinheiro é a questão crítica para lidar com a magnitude da crise”, afirmou Simon Stiel, secretário-executivo da convenção-quadro da ONU para mudança climática, que, na cerimônia de abertura, citou o sofrimento de comunidades devido aos efeitos da crise do clima.
Apesar de, no primeiro dia de COP, já ser pronunciado um discurso vitorioso sobre a inclusão do financiamento para perdas e danos, este é somente um passo inicial básico para a atual conferência climática. Vale lembrar que o evento ocorre na África, no Sul global, o que torna ainda mais latente a questão do financiamento climático.
Basicamente, as negociações caminharam com grande dificuldade sem a oficialização das discussões sobre dinheiro para perdas e danos. E o pedido por financiamento destinado exclusivamente a esse fim não é algo novo.
Já houve oficialização de debate sobre o assunto na COP26, em Glasgow, a partir do Diálogo de Glasgow, que levantou discussões sobre os mecanismos de financiamento em 2022.
O tema pode parecer banal. Afinal, qual seria o problema de destinar mais recursos para o problema real e já visível da crise climática?
Mas há, pelo menos para os países desenvolvidos. Há o receio de que os mecanismos de perdas e danos venham atrelados à ideia de compensação. Ou seja, existe uma preocupação de que o dinheiro signifique que os países ricos estão “compensando” sua gritante responsabilidade nas catástrofes climáticas que afetam outras nações –especialmente as mais vulneráveis.
Uma conexão entre essas ideias poderia resultar em valores exorbitantes.
Não se pode esquecer, além disso, que há uma névoa de certa desconfiança entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Afinal, a já antiga promessa de disponibilização, até 2020, de US$ 100 bilhões por ano de financiamento climático aos países em desenvolvimento não foi concretizada.
Apesar do discurso de vitória no primeiro dia, também é importante lembrar que somente foi decidida a inclusão do tema do financiamento na pauta da COP. Deve haver um cabo de guerra entre os tipos de ações possíveis para o atual momento.
Os países desenvolvidos provavelmente tentarão empurrar decisões de fato sobre mecanismos de financiamento para até 2024 –vale lembrar do período de crise que o mundo vive devido à invasão da Ucrânia pela Rússia, o que impactou questões energéticas europeias e as finanças ao redor do globo, isso sem contar a segurança, considerando as diversas menções que o presidente russo Vladimir Putin fez sobre armas nucleares.
Já os países em desenvolvimento devem tentar já tirar algo mais concreto da COP27 –vale lembrar os efeitos devastadores da crise do clima, como a inundação gigantesca no Paquistão, que matou mais de mil pessoas e impactou a vida de milhões.
POR TERMINAR
Não foi só a agenda da COP27 que sofreu com o atraso. No primeiro dia de conferência, a própria estrutura física do evento ainda está para ser finalizada. Diversos estandes de países e organizações ainda faziam ajustes nas estruturas, apesar de parte do público já circular pelos corredores.
O atraso se deve ao forte esquema de segurança e vigilância que cerca a COP27, no Egito, que levou a atrasos em envios de matéria-prima. De última hora, chegou a ocorrer, inclusive, descredenciamento de pessoas responsáveis pelas montagens dos estandes
O estande oficial do Brasil, que hospeda também diversas organizações setoriais nacionais, como a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária), era um dos que ainda buscava se organizar devidamente.
Vídeos e dados sobre o potencial energético brasileiro encobrem toda a frente do grande estande construído pelo governo Jair Bolsonaro. O foco ali é a capacidade do país na área de energias verdes.
Ao mesmo tempo, há quase nenhuma atenção à Amazônia ou a outros biomas nacionais. Em um canto ao lado da entrada do estande, que é cercado por pedaços de cana-de-açúcar pintadas de verde –assim como diversas paredes do local–, há uma área destinada a uma “experiência Amazônica”. Folhas esverdeadas também decoram parte da área externa do estande.
Curiosamente, a área oficial do governo brasileiro é vizinha do estande (comparativamente menor) do Consórcio da Amazônia Legal, grupo criado pelos governadores da região no início do mandato de Bolsonaro. Com o grupo, os governantes amazônicos buscavam a possibilidade de contornar o governo federal para buscar verbas internacionais –afinal, ficou extremamente comprometida a imagem ambiental brasileira durante o atual governo.
Poucos passos para frente está o terceiro espaço brasileiro na COP27, o Brazil Climate Action Hub, estande da sociedade civil nacional.

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