‘Vocês têm de se virar’, diz Ministro da Educação sobre Fies a universidades particulares
BrasilFoto: Isabela Pilhares/Estadão
Ministro da Educação Abraham Weintraub durante a abertura do Fórum Nacional do Ensino Superior
“O que o governo vai fazer por vocês? Nada, o governo não vai fazer nada. Vocês têm que se virar”. Esse foi o início do discurso do ministro da Educação Abraham Weintraub na manhã desta quinta-feira, 26, durante a abertura do Fórum Nacional do Ensino Superior. A resposta foi direcionada ao presidente do Semesp, entidade que representa os donos de faculdades particulares, que o questionou minutos antes sobre qual é a política do governo para recuperar o Financiamento Estudantil (Fies). Com discurso agressivo e críticas aos professores de universidades federais, o ministro pediu apoio do setor privado ao projeto Future-se. Weintraub defendeu o Future-se e a autorregulação das faculdades privadas. O Estado mostrou esta semana que o MEC quer exigir a contratação dos professores via CLT (carteira assinada), e não por concurso público, para adesão ao Future-se, novo programa da pasta para captar verbas privadas. A maioria das universidades federais, no entanto, rejeita o programa. “Pela primeira vez em cem anos, o País tem um liberal na Presidência e à frente do MEC. Aproveitem essa oportunidade, aproveitem que não ficamos criando problema para vender solução”. Hermes Fonseca, presidente do Semesp, entidade que representa as faculdades particulares, havia lançado o que chamou de “provocações”. Ele questionou se o governo estudava a cobrança de mensalidade nas universidades públicas e se havia uma proposta para o Fies que, segundo ele, está falindo. “O governo não vai fazer nada por vocês. A pergunta é: o que vocês vão fazer por vocês mesmos?”, devolveu o ministro. “O Fies foi um crime do ponto de vista financeiro. Metade dos alunos financiados está inadimplente. É uma bomba que vai ter de ser desatada. Muitos de vocês aqui estão com esse problema nas mãos”, disse. O tom causou desconforto na plateia, composta por donos e dirigentes de entidades particulares de ensino superior. Weintraub também criticou a cor do painel do evento, vermelha, e sugeriu à organização que mudasse o slogan (“Uma nova forma de pensar a educação”). “Tem de tirar educação e pôr ensino. A gente não tem de dar educação, mas sim ensino. Quem educa é a família”, afirmou. O ministro, porém, defendeu afrouxar as regras de fiscalização e credenciamento para a abertura de novos cursos e faculdades privadas. Segundo ele, o mercado pode se autorregular e cobrou que o setor é quem deve apresentar a proposta de autorregulação para o MEC. “Vamos dar liberdade e cobrar responsabilidade (das entidades de ensino privado). Quem pisar fora da linha, vai ter de lidar com o juiz Sérgio Moro (atual ministro da Justiça e da Segurança Pública)”, disse. “Inclusive, alguns de vocês já foram pegos”, completou, rindo, em alusão à Lava Jato da Educação, anunciada para investigar supostas irregularidades em contratos do ministério, mas que até agora não teve nenhuma denúncia apresentada. Em uma fala de 20 minutos, Weintraub também criticou a nova proposta que está sendo debatida para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), principal mecanismo de financiamento do ensino básico do País. O Congresso sugere aumentar a participação da União a esse fundo de 10% do valor total para 40%, o que foi rejeitado pelo MEC. O ministro disse que o principal problema do MEC é “gastar uma fortuna com um grupo pequeno de pessoas” que são os professores das universidades federais. “Eu tenho que ir atrás da zebra mais gorda, que está na universidade federal trabalhando em regime de dedicação exclusiva para dar só 8 horas de aula por semana e ganhar R$ 15 mil, R$ 20 mil”. Apesar das críticas ao evento e de dizer que “o governo não vai fazer nada para o setor”, o ministro pediu o apoio dos donos de faculdades privadas para a defesa e aprovação do Future-se e para rejeitar a atual proposta do Fundeb. “A gente precisa do apoio de vocês para o Future-se, que vai desafogar o ministério, e para um Fundeb correto. A atual proposta vai quebrar o governo e aí não vai haver financiamento para o setor privado”, disse. Leia mais no Estadão.
Estadão Conteúdo