PT dá aval a filiação de Marta e rejeita prévias para escolha de vice na chapa de Boulos

Brasil

A direção executiva municipal do PT encaminhou em reunião nesta terça-feira (16) a filiação Marta Suplicy para ser indicada como vice de Guilherme Boulos (PSOL) na eleição para a Prefeitura de São Paulo. Os participantes deram sinal verde à volta da ex-prefeita e descartaram a possibilidade de prévias.

A indicação de Marta para vice de Boulos foi acatada e exaltada pela maioria dos líderes petistas —que concordaram em relevar o rompimento dela com o PT e o voto pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT)—, mas foi criticada por alas mais à esquerda na legenda e pelo deputado estadual Eduardo Suplicy.

A chance de que o pedido de filiação sofra contestações formais é considerada grande nos bastidores do partido. Os pedidos de impugnação, que só podem ser feitos após o pedido de filiação de Marta, devem chegar ao diretório municipal. Se houver recursos, a discussão pode parar no diretório nacional.

Segundo o presidente do diretório municipal do PT, Laércio Ribeiro, a executiva decidiu que não haverá prévias, ainda que surjam outras candidaturas. “Se aparecer um nome, essa decisão será tomada pela direção municipal, e não em processo de prévias”, afirmou.

“O diretório municipal recebe com bom grado e dará as boas-vindas ao retorno da Marta Suplicy ao PT”, disse o dirigente, descrevendo a gestão da ex-prefeita como extraordinária e falando que ela deixou “marcas importantíssimas, que o PT carrega até hoje”.

Ribeiro disse que os encaminhamentos obtiveram maioria na votação desta terça —foram 12 votos favoráveis, um contrário, uma abstenção e duas ausências. Segundo ele, eventuais questionamentos serão analisados pelo PT no âmbito municipal, evitando que o caso vá para a instância nacional.

A executiva municipal do PT também discutiu formas de enfrentar a resistência a Marta na militância. Ficou decidido que ela deverá fazer um trabalho de aproximação com o diretório paulistano e as bancadas municipal, estadual e federal do PT.

Um calendário será fechado em breve na intenção de, segundo Ribeiro, fazer “um processo de escuta para ir diluindo essas resistências”. Boulos fez percurso semelhante para melhorar a aceitação a sua candidatura entre os petistas. É a primeira vez que o PT abre mão de candidatura própria na capital paulista.

Segundo Ribeiro, não ficou definida uma data para o evento de filiação que o partido quer realizar para marcar a volta de Marta. A questão será decidida conforme a agenda de Boulos e de Lula. Não está confirmada a presença do presidente, mas a ideia é que ele participe do ato.

Ex-marido de Marta, Suplicy defendeu a realização de prévias para que os filiados na capital pudessem opinar sobre o assunto. O movimento do deputado foi visto como isolado e inoportuno. Petistas disseram ser descabido fazer prévias para vice e lembraram que não há outros nomes colocados.

Suplicy, que participou da reunião desta terça, chegou a sugerir dois nomes que poderiam enfrentar Marta, os da vereadora Luna Zarattini e da deputada federal Juliana Cardoso, mas nenhuma das duas decidiu postular a vaga. Sem concorrentes, a possibilidade de disputa interna perdeu força.

O próprio deputado admitiu que não havia outros interessados, o que fez com que a reunião se concentrasse em debater o processo de filiação de Marta e as contestações à reaproximação com ela.

Suplicy conversou com a ex-mulher no dia anterior. Segundo pessoas próximas aos dois, ele saiu do encontro convencido a não mais trabalhar por prévias e facilitar o retorno dela. Marta esperava a reunião desta terça para dar andamento ao pedido de filiação.

O deputado distribuiu aos participantes da reunião um texto em que, após descrever as circunstâncias e a ausência de condições para prévias, declara apoio à chapa Boulos-Marta, “na expectativa de que venham a realizar uma entusiasta campanha e uma administração que seja caracterizada por forte participação popular, total transparência e correção em seus atos”.

Na carta, Suplicy também faz uma série de sugestões para o programa de governo da candidatura, incluindo o apoio da chapa à implementação no país da renda básica de cidadania, projeto de sua vida. Segundo o PT, os pedidos serão encaminhados à equipe que elabora as propostas de Boulos.

A possibilidade de prévias também é limitada por regras internas do PT —e foram citadas para descartar a realização de consulta interna no caso de Marta, caso houvesse outros interessados na vaga de vice.

O estatuto do partido estabelece que as prévias sejam dispensadas, “em caráter excepcional”, se dois terços do diretório municipal da legenda tiverem consenso sobre o nome escolhido para a candidatura majoritária.

Um regulamento aprovado pelo PT em 2023 para orientar a tática nas eleições municipais deste ano reforça o entendimento, deixando claro que a consulta aos filiados pode ser descartada se o nome colocado tiver a anuência de dois terços do diretório na cidade.

O texto foi criticado na época por alas que falaram em afronta aos mecanismos de democracia interna.

Outra regra que, na prática, dificultaria a realização de prévias com Marta é a previsão de que as decisões sobre candidaturas nas cidades com mais de 200 mil eleitores (e, portanto, com segundo turno) sejam referendadas pelo diretório nacional.

O entendimento, previsto em uma resolução petista que tem vigorado nas eleições dos últimos anos, permite que, em caso de falta de consenso, a direção em âmbito federal dê a palavra final na escolha de candidatos locais. A hipótese pode ser usada para intervenções em cidades consideradas estratégicas.

A cúpula da legenda já dá como sacramentada a indicação de Marta para a chapa com Boulos e tem trabalhado para que o processo seja concluído rapidamente. Na semana passada, a presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann (PR), usou as redes sociais para dar boas-vindas à ex-prefeita.

Líder de uma corrente mais à esquerda no PT, o historiador Valter Pomar fez críticas à reacomodação de Marta nos últimos dias e manifestou a vontade de que o tema seja votado no diretório nacional. Outras alas também estão insatisfeitas com a repatriação e devem tentar barrar a refiliação.

Articulada pelo presidente Lula, a volta de Marta ao PT começou a circular no partido em novembro. Na semana passada, ela deixou a gestão Ricardo Nunes (MDB), onde era secretária municipal de Relações Internacionais, para se juntar ao rival dele no pleito.

Marta e Boulos se reuniram em um almoço na casa da ex-prefeita no sábado (13). Após o encontro, os dois confirmaram a aliança e disseram que a união entre eles tem o intuito de derrotar na cidade o campo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que hoje tende a apoiar a reeleição de Nunes.

 

Joelmir Tavares/Folhapress

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