Kassab roda o estado de SP de jatinho para atrair prefeitos a apoiar Tarcísio
BrasilMarcia Helena Pereira Cabral Achilles é prefeita de Guaimbê (a 467 km de SP), se diz tucana antes mesmo de o PSDB ter sido fundado e trabalhou pela reeleição do atual governador Rodrigo Garcia. Adilson de Oliveira Lopes, seu colega de partido e prefeito de Álvaro de Carvalho (a 433 km de SP), afirma que combate o PT desde quando se conhece por gente.
Ambos compartilham do mesmo desejo: “que nenhum convênio [firmado com o governo] será paralisado”, diz Marcia.
Em sua corrida pelo Governo de São Paulo, o candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos) mobilizou uma rede com quase 500 prefeitos dos 645 municípios. A grande maioria desses políticos estava com Rodrigo no primeiro turno.
Para construir esta rede, uma comitiva liderada por Gilberto Kassab, presidente do PSD e um dos mais hábil articulador da candidatura de Tarcísio, percorreu ao longo deste segundo turno os quatro cantos do estado.
A caravana é reforçada com os deputados federais e líderes partidários Gilberto Nascimento (PSC) e Marcos Pereira (Republicanos), além do deputado estadual André do Prado (PL).
As viagens chegam a ser exaustivas e, para atender o maior número de prefeitos, são realizadas a bordo de avião fretado. Em dois dias, por exemplo, a comitiva esteve em Registro, Marília, Ourinho e Ribeirão Preto —todas viagens feitas em avião de pequeno porte. Já no dia seguinte, um comboio de carros foi da capital ao litoral.
Cada encontro dura quase três horas ou mais e reúne dezenas de prefeitos dos municípios vizinhos. Do palco, Kassab e seus companheiros pedem uma mobilização em suas respectivas cidades para virarem votos em Tarcísio.
“Estamos aqui para ouvir os prefeitos, temos convicção que o eleitor se identifica com as propostas de Tarcísio, mas para isso precisamos trabalhar. Não basta acreditar nas pesquisas porque reflete o dia de hoje”, disse Kassab.
Cada um dos prefeitos faz o seu discurso, um gesto tido por Kassab como importante para valorizar a importância que Tarcísio dispensa ao municipalismo.
“Esse alinhamento do governo estadual com o governo federal fará bem para esta locomotiva de São Paulo. Tivemos um pouco com [Michel] Temer, mas teve continuidade por causa do governador [João Doria], como o presidente [Bolsonaro] gosta de dizer, o calcinha apertada”, falou Pereira à plateia, que gargalhou e aplaudiu.
Ao longo da reunião, Tarcísio participa através de uma ligação por WhatsApp e afirma que gostaria de estabelecer um pacto com todos. “Todos os convênios que estão em andamento, os projetos e as obras em execução terão continuidade. A gente sabe que muitos prefeitos apoiaram o atual governador, o que é absolutamente compreensível, porque a gente sabe como é difícil conseguir um convênio”, avisa Tarcísio.
Por fim, o candidato ao governo faz um alerta para os prefeitos reforçarem aos moradores de suas cidades que o seu número na urna é o 10, e não o 22 de Bolsonaro.
“Perdi muito voto, foram anulados, por causa de pessoas votando no 22 para governador.”
Prefeitos, principalmente de cidades de pequeno e médio porte, com a ajuda de funcionários da gestão municipal e vereadores aliados, atuam como poderosos cabos eleitorais, promovendo eventos como carreata e distribuindo material de campanha, entre eles, adesivos, jornais e panfletos.
“Se o prefeito se empenhar na campanha, ele consegue transferir 20% de votos [do eleitorado daquela cidade] ao candidato. Este apoio do Rodrigo logo no início do segundo turno foi importante para liberar os prefeitos a apoiarem o Tarcísio”, afirma Prado.
A ausência de Tarcísio também é justificada com muita cautela. Entre as razões, os aliados dizem que ele direcionou sua agenda para compromissos na Grande São Paulo —onde Fernando Haddad (PT) obteve seu melhor desempenho nas urnas.
“Precisamos arregaçar nossas mangas para fazermos a diferença no interior, deixando o Tarcísio [livre] visitando outras regiões como a capital”, disse Caio Aoqui (PSD), prefeito de Tupã. Cidade onde Bolsonaro e Tarcísio contabilizaram, respectivamente, 65% e 66% dos votos no primeiro turno. “Vamos, agora, passar de 70%, 80%.”
Pelo interior, André do Prado, Marcos Pereira e Gilberto Nascimento clamam, também, por apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) diante de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Minha sobrinha estuda na USP e votou no Lula. Eu disse para ela, vota pelo seu tio no segundo turno”, afirma André do Prado, dando exemplos de como tentar convencer os eleitores a desistirem de Lula e Haddad.
Marcos Pereira compartilha da narrativa de Bolsonaro na qual garante que, se Lula for eleito, o Brasil terá o mesmo destino da Venezuela.
“Tenho um escritório de advocacia, um cliente perdeu uma propriedade na Venezuela, que foi expropriada pelo estado e custou US$ 7 milhões. E teve US$ 12 milhões na conta da sua empresa tomados por Hugo Chávez. Não podemos pestanejar, dia 30 é 10 e 22”, disse Pereira.
Gilberto Nascimento faz aceno às mulheres, uma das faixas do eleitorado onde Lula lidera, e pede para que elas convençam aos indecisos de que Tarcísio é o melhor governador para São Paulo e Bolsonaro será o restaurador da nação.
O deputado recorda a passagem bíblica em que as mulheres foram as primeiras a saber da ressurreição de Jesus Cristo. “Se ali tivesse três homens, nem Marília saberia que Jesus ressuscitou. Mas, como foram três mulheres, todo mundo sabe”, disse Nascimento.
Carlos Petrocilo/Folhapress