Helder Barbalho consolida hegemonia no Pará e prepara vice para 2026
BrasilCom uma camiseta branca com a estampa de uma bandeira do Pará, o governador Helder Barbalho (MDB) se postou ao lado de Igor Normando (MDB) no discurso da vitória em Belém no último dia 27 de outubro.
Normando tem 37 anos, é deputado estadual e primo em segundo grau do governador. No segundo turno, superou o deputado federal bolsonarista Éder Mauro (PL), levando o MDB de volta ao comando da capital paraense após um hiato de 38 anos.
Cercada de simbolismos, a vitória em Belém consolidou a hegemonia do grupo liderado por Helder, que mira uma candidatura nacional e prepara sua vice Hana Ghassan (MDB) para a sucessão em 2026.
O MDB paraense saiu com musculatura das eleições municipais, conquistando 83 das 144 prefeituras do estado. Outros partidos da base governista, como PP, PSD e União Brasil, vêm na sequência entre os que elegeram mais prefeitos.
Por outro lado, aliados do governador foram derrotados em municípios importantes, como Ananindeua, Marabá e Parauapebas, dando fôlego às forças de oposição.
Em segundo mandato como governador, Helder vem de uma tradição política familiar -seu pai, o senador Jader Barbalho (MDB), foi governador duas vezes (1983-1987 e 1991-1994) e presidiu o Senado no início dos anos 2000.
Acossado por investigações, perdeu influência política com a ascensão do PSDB do Pará, mas viu o seu filho retomar o poder da família no estado. Após ter sido prefeito de Ananindeua (região metropolitana de Belém) e ministro dos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), Helder foi eleito governador em 2018 e reeleito com margem ampla em 2022.
No cargo, construiu uma ampla base aliada, que inclui desde o PT até legendas conservadoras. Para isso, afirma que se distanciou de querelas ideológicas e fez um governo pautado em gestão.
“Considero que estão no nosso campo todos que defendem o estado do Pará. Nós respeitamos as diferenças, que permite que tenhamos representações que são da esquerda e da direita. Aqueles que colocam ideologias à frente dos interesses do Pará, a meu ver, estão equivocados”, afirmou à reportagem o governador.
Helder faz parte da ala do MDB que apoia o presidente Lula (PT), indicou o irmão Jader Filho para o comando do Ministério das Cidades e se movimenta para ocupar o posto de candidato a vice-presidente na chapa petista em 2026.
Para isso, conta com a vitrine da COP30, conferência da ONU para a mudança do clima, que será realizada em novembro do próximo ano em Belém. A cidade, que enfrenta gargalos históricos em áreas na gestão do lixo e no saneamento, receberá cerca de R$ 5 bilhões em investimentos.
Helder deve renunciar ao cargo em abril de 2026, obedecendo aos prazos legais para disputar a eleição, fazendo sua vice Hana Ghassan ascender ao cargo de governadora: “Ela deverá ser, naturalmente, a candidata do nosso campo político”, disse o governador.
O principal adversário da vice-governadora deve ser Dr. Daniel Santos (PSB), prefeito reeleito de Ananindeua, segundo maior município do Pará, com 507 mil habitantes.
Com trajetória política no PSDB, Daniel foi deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa entre 2019 e 2020. Aliou-se a Helder Barbalho e migrou para o MDB, sendo eleito prefeito com o apoio do governador.
Mas a aliança desandou no primeiro semestre deste ano, quando Daniel se posicionou como candidato a governador em 2026. Ele rompeu com Helder alegando perseguição política, buscou abrigo no PSB e foi reeleito à prefeitura com 83,5% dos votos.
Mesmo filiado ao partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, Daniel tem feito acenos aos bolsonaristas. No segundo turno em Belém, declarou apoio ao deputado Éder Mauro em detrimento de Igor Normando, que se sagraria vencedor.
“Já chega dessa dinastia, uma pessoa não pode se achar dona de um estado”, afirmou Daniel em vídeo gravado ao lado de Éder Mauro em outubro.
A aliança foi vista como um aceno ao campo liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, de olho na eleição de 2026. A prioridade do PL será conquistar uma cadeira no Senado.
O campo da esquerda, por sua vez, vai tentar se reconstruir após a derrota do prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) em Belém. Ele concorreu à reeleição com o apoio do PT, mas obteve apenas 9,8% dos votos.
Edmilson defende a construção de uma frente de esquerda para concorrer ao governo em 2026. Mesmo que não tenha êxito na formação da aliança, o PSOL deve ter candidatura própria.
“É inevitável ter uma candidatura para colocar o dedo na ferida. Não dá para falar em sustentabilidade com fome, com falta de água e de sistema de esgoto, com o desmatamento crescendo e o agronegócio destruindo o equilíbrio. Essa é a realidade do Pará que tem que ser denunciada”, afirma o prefeito.
A tendência é que o PT mantenha a aliança com Helder em 2026, priorizando o projeto nacional de reeleição do presidente Lula.
O Pará já foi governado pelo PT de 2007 a 2010, com Ana Júlia Carepa, e por governadores tucanos de 1999 a 2006 e de 2011 a 2018, com Almir Gabriel e Simão Jatene. Desde então, a política local ganhou novos contornos.
De um lado, o estado viveu uma ascensão do conservadorismo, com o avanço de nomes ligados à agenda da segurança pública, ao agronegócio e ancorado na força de uma Igreja Católica tradicionalista e de denominações evangélicas como a Assembleia de Deus e Igreja Quadrangular.
Por outro lado, Helder Barbalho conseguiu crescer e consolidar sua força política no vácuo na crise do PT e do PSDB, unindo em seu entorno setores conservadores e à esquerda.
A esquerda segue nas cordas, mas vai trabalhar para recuperar o protagonismo, afirma o prefeito Edmilson Rodrigues: “Ou a gente recupera a nossa capacidade de conquistar corações e mentes, ou a gente vai ter lideranças falando em nome de uma base que não a reconhece”.