Governo negocia com prefeituras critérios para desoneração da folha de pagamentos
BrasilO governo abriu uma nova frente de negociação da política de desoneração da folha de pagamentos, dessa vez com as prefeituras. Em reunião no Palácio do Planalto, na terça-feira, 16, entidades que representam os prefeitos discutiram outros critérios, além do corte populacional, para contemplar os municípios com o benefício tributário.
As grandes cidades, reunidas na FNP (Frente Nacional dos Prefeitos), defendem que o governo contemple, prioritariamente, as cidades com orçamentos mais apertados. A ideia é que as cidades que tenham a menor receita corrente líquida em relação à população sejam mais atendidas. O critério de corte, portanto, consideraria a “renda” do município.
O argumento é que há cidades médias e grandes com o orçamento mais engessado do que pequenos municípios e precisam mais da desoneração da folha de salários. Haveria então um escalonamento nas alíquotas de contribuição para que as cidades fossem diferenciadas, e o benefício não fosse concedido de forma linear.
A negociação com os representantes dos prefeitos foi anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no fim do ano passado, quando o governo baixou uma medida provisória revogando o benefício aprovado pelo Congresso. A MP impôs uma reoneração gradativa aos 17 setores econômicos hoje atendidos pelo programa e cancelou a partir de 1º de abril o benefício para os municípios aprovado pelo Congresso.
Haddad informou, na ocasião, que a negociação ficaria a cargo da Secretaria de Relações Institucionais do Palácio do Planalto. O assunto é delicado porque há eleições municipais neste ano e não é de interesse do governo e dos parlamentares contrariar aliados locais.
Durante a tramitação no Congresso da proposta que prorrogou a política de desoneração da folha até 2027, o senador Angelo Coronel (PSD) incluiu no programa de incentivo tributário as cidades pequenas, usando como linha de corte um coeficiente populacional, que neste ano foi atualizado para 156.216 habitantes. A contribuição patronal recolhida pelas prefeituras no pagamento dos salários de seus funcionários cairia de 20% para 8%.
O governo entende que o benefício é inconstitucional, uma vez que a reforma da Previdência aprovada em 2019 proíbe a redução da tributação previdenciária. Além disso, a renúncia fiscal com a medida não consta do Orçamento deste ano e executá-la feriria a Lei de Responsabilidade Fiscal. Caso não avance na negociação política, o governo já avisou que vai recorrer à Justiça.
Reunido com os representantes dos prefeitos, o secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, sinalizou que a renúncia do benefício concedido às prefeituras pode chegar a R$ 8 bilhões — o dobro do divulgado por Haddad — e que não há recursos para bancar o programa. Ele não indicou, porém, quanto o governo federal planeja colocar à disposição das cidades. Uma nova reunião está marcada para 7 de fevereiro.
A CNM, por sua vez, entende que as cidades grandes que ficaram de fora da linha de corte populacional são poucas (32) e que a maioria das capitais tem regimes próprios de Previdência, não tocadas pela política pública. Dessa forma, a desoneração pelo critério aprovado pelo Congresso deve prevalecer.
“A defesa da desoneração da folha de pagamentos de 20% para 8% para as pequenas cidades é uma posição inarredável da CNM”, afirmou o presidente da entidade, Paulo Ziulkowski, para quem o debate sobre os critérios de divisão apenas embaralha o cenário.
“Até a próxima reunião (com os representantes dos prefeitos), a situação dessa MP já deverá estar resolvida”.
A reunião desta terça-feira ocorreu simultaneamente a conversas de Haddad sobre a desoneração da folha em outra frente. O ministro discutiu com líderes do governo e com o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) a resistência expressa pelo Senado à MP e ao pedido para que ela seja rejeitada.
Nesta quarta-feira, 17, Haddad levou o tema ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e nesta quinta ele deve se reunir com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Há em curso uma negociação que tenta se equilibrar entre o que foi aprovado pelo Congresso e pontos de mérito apresentados pelo governo, como a criação de uma transição para que os setores atendidos sejam reonerados e que haja fontes alternativas para custear o programa.
Gilberto Perre, que é secretário-executivo da FNP, afirma que é possível conceder um benefício mais elaborado para as prefeituras e que o critério populacional não espelha mais os desafios das médias e grandes cidades.
“Precisamos não tratar os diferentes de forma igual, por isso a FNP defende uma classificação de elegibilidade do benefício”, disse Perre.
Mariana Carneiro/Estadão