Galípolo busca aprovação para o BC em périplo com senadores do PT ao PL

Brasil

O secretário executivo indicado para o Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, durante coletiva no CCBB

Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ocupar uma cadeira na diretoria do Banco Central, Gabriel Galípolo dedicou parte dos últimos dias a uma peregrinação por jantares e gabinetes de senadores para atrair o apoio daqueles que precisam aprovar seu nome para o cargo.

Hoje secretário-executivo do Ministério da Fazenda, o economista não fez distinção entre colorações partidárias e incluiu em seu roteiro de conversas desde senadores da base do governo até membros do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Galípolo já tinha uma inserção importante nas rodas políticas de Brasília, participando da negociação de medidas importantes como o novo arcabouço fiscal. Ele tem levado consigo Ailton Aquino, funcionário de carreira do BC que foi indicado para a segunda vaga disponível na direção da autarquia e nome menos conhecido entre os parlamentares.

Nos encontros, segundo relatos colhidos pela Folha, Galípolo tem demonstrado desenvoltura ao falar de temas áridos como inflação, juros e reservas internacionais —assuntos que pautam o dia a dia da autoridade monetária.

Em diferentes diálogos, o atual secretário detalhou os conceitos, traçou um panorama dos índices de preços e da taxa básica de juros (Selic), nos últimos anos e para o futuro. Também explicou de forma aprofundada como o Brasil constituiu suas reservas internacionais (hoje em US$ 343,4 bilhões), tidas como um importante colchão de segurança contra choques externos.

Ele ainda ouviu diversas reclamações de senadores sobre o atual patamar de juros, considerado alto. O tom faz coro às críticas do próprio governo sobre a condução da política monetária, que mantém a Selic em 13,75% ao ano.

A discussão sobre meta de inflação, monitorada de perto pelo mercado financeiro diante da possibilidade de mudança, passou ao largo dos debates com os senadores, segundo relatos. Nem o secretário, nem os senadores mencionaram o assunto nas conversas.

De acordo com interlocutores, Galípolo também tem buscado se ater aos temas do BC, falando como um candidato à diretoria, embora seja hoje um agente de governo atuante nas medidas de maior envergadura até agora na gestão do ministro Fernando Haddad (Fazenda).

Sobre a política fiscal, ele resume seu posicionamento à necessidade de “harmonização” entre ela e a política monetária —um discurso bastante entoado pelo ministro da Fazenda.

Segundo os relatos, apesar da boa dose de economês, Galípolo tem causado boa impressão nos senadores pela disposição ao diálogo e também pelo conhecimento técnico na área.

Aquino também foi elogiado por dois senadores ouvidos pela Folha e que disseram não conhecê-lo até o encontro.

Na terça-feira (13) à noite, houve um jantar com presença de nomes tanto da base quanto da oposição, como o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido), Weverton (PDT-MA), Mecias de Jesus (Republicanos-RR) e Chico Rodrigues —que, apesar de ser do PSB de Roraima, foi vice-líder do governo Bolsonaro.

Ele e Aquino também se encontraram com a bancada do PT no Senado e com o senador Eduardo Gomes (PL-TO).

A dupla também acompanhou Haddad e Simone Tebet (Planejamento) na reunião de líderes com presença do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na manhã desta quinta-feira (15), agenda na qual os dois ministros se dedicaram a debater o novo arcabouço fiscal.

“[A] política de juros precisa ser urgentemente revista. Obviamente precisávamos conversar mais e compreender o que estão imaginando [sobre esse tema]”, disse o senador Weverton.

Segundo o parlamentar, os dois disseram que estavam começando o périplo entre os senadores e que prevê que ambos sejam aprovados pela Casa.

“Não tenho dúvida de que terão a ampla maioria dos votos necessários no Senado”, completou.

A indicação de Galípolo e Aquino precisa, primeiro, passar pela CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado. A sessão está prevista para o próximo dia 27. Caso sejam aprovados, os nomes vão para o plenário.

Galípolo e Aquino repetem o que já é tradição no processo de indicação, com uma saga por gabinetes de parlamentares para convencê-los a votarem em seu favor.

A dupla busca confirmar suas vagas na direção do BC no momento em que a autarquia vem sendo alvo de ataques do governo pelo nível da taxa de juros.

O próprio Lula já trocou farpas publicamente com o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, em mais de uma ocasião, e também especulou retirar a autonomia do banco, dando mais poder de interferência ao executivo.

Braço direito de Haddad, Galípolo é visto como um homem de confiança do governo para conseguir influenciar a direção do órgão nas decisões sobre o juros.

Até o fim do mandato de Campos Neto, em 2024, Lula ainda poderá indicar mais dois diretores e Galípolo, inclusive, é cotado para substituir o presidente do banco.

 

Idiana Tomazelli e João Gabriel/Folhapress

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