Bolsonaro reforma casa de praia alegando medo de bloqueio das contas por Moraes

Brasil

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que por temor de que o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), bloqueie suas contas bancárias retirou parte do dinheiro do banco e fez uma reforma na sua casa de praia na Vila Histórica de Mambucaba, em Angra dos Reis (RJ).

Bolsonaro não quis dizer quanto gastou. “Não vou te dizer isso, mas paguei do meu bolso e tenho todas as notas fiscais”, se limitou a dizer.

No final de 2017 e início de 2018 a reportagem da Folha esteve em Mambucaba no curso da apuração sobre o patrimônio da família Bolsonaro, já que à época o patriarca estava na pré-campanha que o levaria, meses depois, à Presidência da República.

Apesar de ter sido deputado federal por 28 anos e de ter três filhos também como mandato, Bolsonaro e a família eram apresentados à época por aliados como pessoas de fora da política tradicional. O objetivo era surfar na onda antissistema que deu a tônica daquelas eleições.

Na época, o jornal mostrou que o patrimônio da família havia se multiplicado na política, reunindo 13 imóveis com preço de mercado de pelo menos R$ 15 milhões, a maioria em pontos altamente valorizados do Rio de Janeiro, como Copacabana, Barra da Tijuca e Urca.

À exceção de uma loja de chocolates da qual o hoje senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) era sócio, a família se dedicava apenas à política.

Entre os imóveis identificados pela Folha à época estava o de Mambucaba. A construção ocupava boa parte de um lote de cerca de 700 metros quadrados, sendo formada, em suma, por dois sobrados, um de frente para a rua principal da vila e outro para os fundos, com acesso direto à praia.

Mambucaba é vizinha a Paraty e fica a cerca de 200 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro. Tem cerca de 1.000 habitantes e todos seu conjunto arquitetônico e paisagístico é tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), incluindo uma igreja de Nossa Senhora do Rosário do século 17.

Nos séculos 18 e 19 a região abrigou importante porto de exportação de café e de importação de escravizados.

A casa de Bolsonaro foi avaliada por corretores da região, no final de 2017, pelo preço de mercado de cerca de R$ 1 milhão.

A propriedade é constantemente citada pelo ex-presidente como exemplo de críticas infundadas que sofre, já que, segundo ele, adversários atribuem à família a propriedade de uma “mansão de R$ 10 milhões” em Angra dos Reis.

A Folha esteve novamente na propriedade no último sábado (3), durante café da manhã do ex-presidente com apoiadores, atividade que ele próprio apelidou de “cercadinho de Mambucaba” —em alusão ao “cercadinho do Alvorada”, que eram os encontros que ele promovia com simpatizantes na porta da residência oficial da Presidência, em Brasília.

Na ocasião, Bolsonaro falou por mais de duas horas sobre temas como nióbio, Lula, Venezuela, pedágios, em como ele poderia ter ficado rico na Presidência se beneficiando de informações privilegiadas do Banco Central, entre outras preleções.

Ele também chegou a enaltecer a morte de suspeitos pela Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, considerada a tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo) em resposta em resposta ao assassinato do soldado Samuel Wesley Cosmo durante um patrulhamento de rotina.

A reportagem se identificou na entrada à segurança de Bolsonaro e, ao final, também ao ex-presidente. No dia seguinte, domingo (4), Bolsonaro repetiu o café da manhã, mas a entrada da Folha, dessa vez, foi barrada.

De um modo geral, foi possível verificar que a residência de praia de Bolsonaro ganhou novas janelas e portões, substituindo os antigos de madeira, além de pintura nova em toda a fachada. Em seu interior, há uma área nova de churrasqueira e uma sauna.

Bolsonaro está em Mambucaba desde o início de janeiro, em uma rotina, segundo ele, de mar, pesca e bate-papo.

Das bananeiras e outras vegetações que havia em 2017 na propriedade, só restaram dois pés de jabuticaba.

Dentro da residência também ficam estacionados dois jet-skis, um azul, do próprio Bolsonaro, e um amarelo emprestado a ele pelo empresário Renato Araújo Corrêa, lançado pelo ex-presidente candidato a prefeito de Angra dos Reis.

Esses jet-skis foram usados pelo ex-presidente e familiares para a pescaria realizada no dia em que a Polícia Federal foi a Mambucaba fazer buscas na casa atrás de pertences do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), investigado no caso da suspeita da existência de uma “Abin paralela” na gestão do pai.

Bolsonaro não foi o único que fez obras na rua.

Um dos vizinhos construiu um puxadinho logo ao lado, com visão total da área de lazer do ex-presidente.

Outros vizinhos afirmaram que os dois são amigos e que, por ora, não houve atritos. A casa ao lado estava vazia enquanto a Folha esteve em Mambucaba.

Bolsonaro afirmou apenas que não reclamou com o vizinho, mas que considera a obra “totalmente irregular”. “Mas não vou falar nada, ele que se entenda com a Prefeitura de Angra dos Reis depois.”

 

Ranier Bragon/Folhapress

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