Rui busca minimizar colapso da economia como Bolsonaro quer, mas sabe reconhecer perigo

Bahia

por Fernando Duarte

Rui busca minimizar colapso da economia como Bolsonaro quer, mas sabe reconhecer perigo

Foto: Mateus Pereira/ GOVBA

Muito criticado por propor o fim do “lockdown”, o nome gourmet do fechamento do comércio, o presidente Jair Bolsonaro não parece estar completamente equivocado. Tanto que o governador da Bahia, Rui Costa, adversário público do presidente, defendeu uma postura similar durante conversas com prefeitos baianos. A diferença é que Rui sugeriu a evolução gradual das medidas restritivas, enquanto Bolsonaro é contrário a toda e qualquer ação, para que a população viva em normalidade.

 

É estranho, não? Vou explicar de maneira didática. Ao falar sobre o fechamento de estabelecimentos comerciais, Rui indicou que os prefeitos de cidades que não registraram casos do novo coronavírus não deveriam promover a suspensão das atividades de lojas e feiras livres. É uma tentativa de evitar o colapso antecipado das economias locais, exatamente o que propõe Bolsonaro em uma escala macro – porém sem preocupação social. O governador reconhece o perigo da doença. O presidente vê como uma “gripezinha”.

 

Até aqui, a melhor resposta à expansão do novo coronavírus ao redor do mundo foi o isolamento horizontal, segundo especialistas da área médica, como diversos governadores determinaram. Países como Itália e Inglaterra chegaram a executar o isolamento vertical, apenas dos grupos de risco, e os números provocaram mudanças de posicionamento. Agora, italianos e ingleses vivem fases distintas da evolução da Covid-19, porém com toda a população enclausurada para evitar a disseminação do vírus. É um recuo provocado pelo crescimento rápido do número de mortos.

 

Rui não propõe a verticalização do isolamento. O governo da Bahia, inclusive, adotou medidas que já reduzem significativamente o trânsito de pessoas nas ruas, como a suspensão de aulas – crianças e adolescentes são apontados como virtuais transmissores assintomáticos. No entanto, a fala de Rui sobre a manutenção do comércio e das feiras livres em funcionamento mostra uma flexibilização para tentar evitar o cataclismo econômico prévio.

 

Nesse ponto há uma conversa, ainda que tímida, entre o que pensa Bolsonaro e o que pensa o petista baiano. Não dá para assistir o consumo e a atividade comercial e de serviços estagnar, sob o risco dos efeitos nefastos de longo prazo, a exemplo do aumento do número de pessoas em condição de vulnerabilidade social. É uma escolha de Sofia sobre qual o momento menos pior para assistir a população mais pobre fenecer. Rui, aparentemente, prefere adiar. Bolsonaro talvez só não se importe mesmo.

 

Este texto integra o comentário desta sexta-feira (27) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM e Alternativa FM Nazaré.

Deixe sua avaliação!

Mais Notícias de Bahia