‘Macaco’ e ‘homossexualismo’: Quando o preconceito não escolhe ideologia
Bahiapor Fernando Duarte
Dois episódios completamente distintos mostram que o preconceito não escolhe perfil ideológico. Na Bahia, o presidente do diretório do PT de Curaçá, Júlio Cézar Lopes, defendeu uma filiada que chamou policiais de “macacos” após ser abordada pelos profissionais de segurança pública. Em Brasília, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, falou que “famílias desajustadas” fazem com que um adolescente “opte por andar no caminho do homossexualismo (sic)”. Dois lados distintos da cena política brasileira que destilam preconceito – sem ligarem para o quão preconceituosos estão sendo.
O dirigente do PT de Curaçá tentou explicar a defesa injustificável do racismo da servidora pública Libânia Maria das Torres. No argumento dele, o adjetivo “macaco” era uma manifestação tipicamente sertaneja, numa referência à forma como a população tratava os policiais nos tempos do cangaço. Júlio Cézar Lopes provou que o preconceito ultrapassa gerações e passou por uma reprimenda pública do governador Rui Costa e do presidente do PT da Bahia, Éden Valadares. Foi pouco para a repetição do crime de injúria racial.
Isso no contexto de que o candidato a prefeito homologado pelo PT de Curaçá, Murilo Bomfim, é negro, como o policial que foi vítima da militante defendida pelo dirigente. É o típico argumento vazio do “não sou racista, tenho até amigos negros”. Para além de ter sido rechaçado pelos líderes do PT, Júlio Cézar Lopes terá que enfrentar um processo judicial para que, mesmo que seja absolvido, cumpra o papel pedagógico de ensinar uma mente tacanha.
Se na esquerda o preconceito racial foi o que chamou atenção, na extrema direita o caso foi, mais uma vez, a defesa da “família tradicional brasileira”, parte da pauta de costumes que possui força no Executivo e angaria apoios no Congresso Nacional. Além de tratar, equivocadamente, orientação sexual como “opção”, o ministro da Educação utiliza o sufixo “ismo” para tratar da homossexualidade, numa classificação como doença já internacionalmente corrigida desde o início da década de 1990. O problema é que Milton Ribeiro consegue encontrar amparo em uma parcela grande da sociedade, que sequer percebe que há homofobia ministerial explícita. Nem no ministério da fé tal postura caberia.
O PT acabou obrigando o filiado a rever os próprios conceitos, ainda que ele mantenha a maneira preconceituosa como defendeu a correligionária. O ministro tende a ser aplaudido por quem diminui os direitos de minorias sociais. Os dois exemplos são bem tristes. Até quando seremos obrigados a ler, a ouvir e a escrever sobre isso?
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