Jequié tem eleição sem oposição e embate principal entre partidos da base do governador
Bahiapor Jade Coelho
Em 2020 a eleição municipal de Jequié, no Médio Rio de Contas, é marcada por um embate principal entre dois partidos integrantes da base aliada do governador Rui Costa no estado: o PP e o PSD. As siglas estão entre as que concentram o maior número de prefeituras e deputados estaduais na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA). O Progressistas, do vice-governador João Leão, tem como nome na disputa o deputado estadual Zé Cocá. Já o PSD, dos senadores Otto Alencar e Angelo Coronel, briga pela cadeira do Executivo de Jequié através de Dr. Fernando.
Os mais de 108 mil eleitores jequieenses vão escolher entre cinco nomes o novo gestor da cidade. A lista inclui estreante e figuras já experientes em eleições. A disputa pela prefeitura da Cidade Sol tem ainda James Meira (Patriota), o ex-vereador Pé Roxo (Psol) e a ex-vice prefeita Rita Rodrigues (PCdoB). O ex-deputado estadual Ton Legal (PRTB), está inscrito no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas no último fim de semana declarou apoio ao candidato do Patriota.
Deputado estadual de primeiro mandato, Zé Cocá é apadrinhado pelo governador e a primeira-dama Aline Peixoto. O progressista foi duas vezes prefeito de Lafaiete Coutinho, e nas eleições deste ano angariou alianças tanto com partidos da base de Rui, quanto com maior adversário do chefe do Executivo baiano, o DEM. A coligação conta ainda com PT, PSDB, Podemos e PV.
Dr. Fernando entra na disputa em uma chapa puro sangue e com alianças firmadas com MDB, PSC, Avante, Solidariedade, Republicanos e PMB. O candidato é apoiado pelo deputado federal Antonio Brito (PSD). O pleito de 2020 é o terceiro que ele concorre à prefeitura de Jequié. Em 2014 o médico tentou uma cadeira na Assembleia Legislativa da Bahia, sem sucesso.
Estreante em eleições, o candidato James Meira é servidor público e se coloca como representante da direita conservadora na disputa. Nas redes sociais associa sua imagem ao presidente da República Jair Bolsonaro e ao vice-presidente Hamilton Mourão. Meira surge em uma chapa puro sangue e sem alianças partidárias.
A comunista Rita Rodrigues não é novata em eleições. Já foi vice-prefeita de Jequié ao lado do prefeito Reinaldo Pinheiro (PP) entre 2005 e 2008. Ela também já ocupou cadeira no Legislativo municipal: foi vereadora por dois mandatos. O PCdoB marcha isolado na disputa e tem a única chapa totalmente feminina.
O comerciante e ex-vereador Pé Roxo é mais um que disputa isolado. Além da eleição que venceu como vereador, ele é figura presente nas eleições municipais desde 2004. Além de concorrer ao Legislativo, já foi candidato a vice-prefeito.
O QUE MOSTRAM AS PESQUISAS
Pesquisa de intenções de voto encomendada pelo Bahia Notícias em Jequié e divulgada em 15 de outubro, mostra Zé Cocá em larga vantagem e com mais que o dobro de intenções de voto que o segundo colocado. O deputado estadual e Dr. Fernando são os melhores posicionados de acordo com dados levantados pela Séculus Análise e Pesquisa.
Na pesquisa estimulada, Zé Cocá chegou a somar 43,68%. Dr. Fernando ficou na segunda colocação com 19,52%. James Meira somou 6,72%, Pé Roxo 2,08%, Everton Almeida (Ton) apareceu com 0,80% e Rita Rodrigues com 0,64% (veja mais aqui).
Pé Roxo é quem lidera no cenário de rejeição. Quando questionados em quem não votariam de jeito nenhum a maioria dos eleitores de Jequié citou o ex-vereador, que somou 19,51%. Zé Cocá ficou com 11,79%, Rita Rodrigues com 9,32%, James Meira tem 7,42%, Dr. Fernando 7,13% e Everton Almeida 6,11%. Os eleitores que não escolheram nenhum são 19,21% e não souberam ou não opinaram 19,51%.
O levantamento do Bahia Notícias com a Séculus Análise e Pesquisa fez 625 entrevistas, entre os dias 8 e 9 de outubro de 2020. O intervalo de confiança é de 95% e a margem de erro máxima estimada é de 4,0 pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados encontrados no total da amostra.
Os dados referentes à pesquisa eleitoral das Eleições Municipais 2020 foram encaminhados à Justiça Eleitoral e protocolizados sob o número BA-02891/2020.
CADÊ A OPOSIÇÃO?
O Democratas, sigla presidida pelo prefeito de Salvador, ACM Neto, teve um candidato a prefeitura de Jequié pela última vez em 2004, ainda como o antigo PFL.
Integrantes da cúpula afirmaram ao Bahia Notícias no ano passado que o deputado federal Leur Lomanto Junior seria nome com potencial no município. Correligionários tentaram, sem êxito, convencer o parlamentar a entrar na disputa (leia aqui).
O deputado democrata foi o segundo mais votado para a Câmara dos Deputados em Jequié no pleito de 2018, com 8,9 mil votos. Atrás de Antônio Brito (PSD) que teve 29,8 mil votos. Leur é soteropolitano, mas o seu pai Lomanto Júnior foi prefeito de Jequié e governador da Bahia.
Leur declarou apoio ao candidato Zé Cocá.
HISTÓRICO POLÍTICO
No último domingo (25) Jequié completou 123 anos de emancipação política. A história recente da cidade mostra que continuismo e reeleição de prefeito são situações não vivenciadas pelos jequieenses desde 2004. A cadeira do chefe do Executivo da cidade nas últimas quatro eleições só teve gestores de um mandato só.
O último prefeito reeleito na Cidade Sol foi Roberto Brito (PFL). Ele conquistou a vaga nas urnas em 1996 e se manteve no poder em 2000. Desde então a cidade elegeu Reinaldo Pinheiro (PP) em 2004; Luiz Amaral (PMDB) em 2008; Dra. Tânia (PP) em 2012; e Sérgio da Gameleira (PSB) no pleito de 2016.
Gameleira não é candidato em 2020. Ele divulgou nota em setembro em que anunciou que não apoiaria nenhum candidato das eleições deste ano (leia mais aqui).
A gestão de Gameleira é marcada por investigações por improbidade administrativa. O prefeito chegou a ser afastado do cargo (leia aqui). Sérgio da Gameleira foi denunciado pelo Ministério Público estadual de improbidade administrativa por causar prejuízos aos cofres públicos em aproximadamente R$ 4,9 milhões. Na ação, o MP aponta que o prefeito está desde 2017 sem realizar os repasses ao Instituto dos Servidores Municipais de Jequié, além de realizar altos gastos com publicidade.
PANDEMIA
A pandemia da Covid-19 impactou diretamente os cofres públicos e forçou gestores a modificarem e comprometerem os seus orçamentos para combatê-la. Os reflexos da crise sanitária ficarão como herança para o próximo mandato, mas estão pouco presentes nos planos de governo dos candidatos que melhor pontuam em Jequié.
Nas 23 páginas do plano de governo do candidato Zé Cocá, os termos pandemia e Covid-19 não aparecem nenhuma vez. No capítulo em que trata da saúde, ele lista nove propostas de ações para a área, que incluem a estruturação da Atenção Básica; ampliação da cobertura da Estratégia de Saúde da Família (ESF); melhoria da estrutura tecnológica das Unidades Básicas de Saúde; e a implantação de Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf).
O documento com as propostas de Dr. Fernando tem mais que três vezes o número de páginas do adversário. Ele cita a pandemia em três oportunidades, uma na introdução, e outras duas vezes no trecho em que fala da liderança federal, e traça o perfil do deputado federal Antônio Brito. O candidato traz 16 propostas para a área da saúde. Assim como o adversário, ele promete fortalecer a Atenção Básica, fala em requalificação das unidades; construção de centros de saúde; e implantação de Nasfs.
Os dois planos trazem pontos semelhantes no que diz respeito a saúde, mas o candidato médico faz propostas mais específicas. No entanto, nenhum deles deixa claro os planos para lidar com os efeitos da pandemia no próximo ano.
CÂMARA MUNICIPAL
Nas eleições deste ano Jequié tem 338 candidatos em busca de uma das 19 cadeiras na Câmara Municipal. Entre os que pleiteiam o cargo de vereador, 67% são homens e as mulheres são pouco mais que os 30% obrigatórios por lei.
Atualmente a Câmara de Jequié é majoritariamente masculina, tem apenas uma mulher entre os legisladores. A única figura feminina é a vereadora Joselane Ferreira da Silva (PRP), conhecida como Laninha, e que em 2020 pleiteia a reeleição.
Ainda em relação ao perfil do candidato a vereador de Jequié, 72% se auto declararam pretos ou pardos, e 39% têm o ensino médio completo.