Ex-presidente critica falas de novo dirigente da Fundação Palmares: ‘Lamentável’
Bahiapor Mauricio Leiro
Passada uma semana do dia da Consciência Negra, comemorado na última quarta-feira (20) (veja aqui), o novo presidente da Fundação Cultural Palmares,vinculada ao Ministério da Cultura, Sérgio Nascimento de Camargo, tomou posse do cargo nesta quarta-feira (27). O novo dirigente, no entanto, já discursou contra sua própria causa. O responsável pela fundação disse que a escravidão foi “benéfica para os descendentes” e que o movimento negro precisa ser “extinto” (relembre aqui).
O ex-presidente da Fundação Cultural Palmares, e atual presidente da fundação Pedro Calmon, Zulu Araújo, lamentou a fala de Sérgio e reclamou que os negros “não são privilegiados no ataque”, pois vários setores da cultura estão sendo destruídas no momento atual e todas as políticas públicas de cultura do país estão em risco.
A Fundação Cultural Palmares é uma entidade pública vinculada ao Ministério da Cultura, instituída pela Lei Federal nº 7.668, de 22 de agosto de 1988. Em tese, sua missão seria de reforço à cidadania, à identidade, à ação e à memória dos segmentos étnicos dos grupos formadores da sociedade brasileira, além de fomentar o direito de acesso à cultura e à indispensável ação do Estado na preservação das manifestações afro-brasileiras.
Para Zulu, o movimento negro brasileiro tem dado uma enorme contribuição para a promoção social no Brasil. “[O movimento tem colaborado com] A democratização no Brasil, e sobretudo, para a igualdade racial no Brasil. E por que isso? Pois o Brasil, lamentavelmente, tem uma herança escravocrata, que custou a vida, o sofrimento e a dor de milhões e milhões de descendentes de africanos. Negar isso é estar alinhado com aqueles que desumanizaram a África, desumanizaram os descendente de africanos e cometeram o maior crime que a humanidade poderia conhecer: a escravidão”, explicou ao Bahia Notícias.
Presidente entre 2007 e 2011, Zulu reforça que as práticas na época da escravidão foram caracterizadas como crime de lesa a humanidade pela Organizaçao das Nacões Unidas (ONU). “Inclusive, incluiu esses dois crimes como os crimes mais hediondos que se pode cometer no planeta terra. Está escrito. Portanto, negar que a escravidão, tráfico negreiro e o racismo são crimes hediondos, é o mesmo que negar a humanidade e a civilização”, analisou. “É uma fala tão estapafúrdia e caricatural. Temos que afirmar aquilo que está posto em todos os cânones civilizatórios do mundo. Está na ONU, na Unesco, está na constituição brasileira”, completou.
Ícone do movimento de resistência, Zumbi dos Palmares, vindo do quilombo que dá nome a fundação, também foi alvo do novo presidente. Já Zulu, vê Zumbi como um símbolo que representa a luta, o desejo, a vontade, e o signo da liberdade, não somente no Brasil. “Qualquer ser humano que lute por igualdade, do ponto de vista econômico, racial, social, sem dúvidas estará dando uma enorme contribuição para que nossa sociedade conviva de maneira harmônica. Ele é herói porque defendeu aquilo que é a existência humana: a liberdade. Uma pessoa que tem a coragem, em liderança, colocando a vida em risco para defender algo que é inerente ao ser humano tem que ser considerado um herói”, comentou ao BN. Zulu prega que o setor cultural resista. “A cultura é, sobretudo, transformação”, finalizou.