Bahia participa do desenvolvimento de vacina contra dengue a ser disponibilizada pelo SUS

Bahia

De janeiro a outubro deste ano, 1,4 milhão de pessoas foram diagnosticadas com a dengue e outras 900 morreram no Brasil em decorrência da doença, uma arbovirose conhecida da população desde o século XVIII. O aumento registrado foi de 400%.

 

O alto número de ocorrências não dá conta das histórias únicas de cada um dos brasileiros vitimados pelo mal. A fim de evitar a interrupção dessas trajetórias, uma pesquisa encabeçada pelo Instituto Butantan, de São Paulo, busca desenvolver um imunizante para combater infecções pelo vírus causador da dengue.

 

O estudo, que está na fase 3, está sendo tocado em 16 centros espalhados pelo Brasil. E um deles é o Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na Bahia.

 

Na etapa de teste clínico em que se encontra, última antes da submissão do imunizante para a solicitação de uso comercial junto a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é observada a proteção em humanos.

 

Pesquisadora envolvida no estudo, a médica imunologista Viviane Boaventura conta que, atualmente, o país conta com um imunizante contra a doença, mas ele só é indicado para quem já teve dengue e não foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS). 

 

O novo fármaco em desenvolvimento, explica Boaventura, deve ser aplicado justamente para que o paciente, de forma gratuita, não seja submetido ao risco de ser infectado por nenhuma forma do agravo.

 

Ao Bahia Notícias, a profissional comenta que o estágio atual da pesquisa é avançado. Nela, os voluntários que se colocaram à disposição da ciência recebem uma injeção – que pode ser o imunizante ou o placebo – e são acompanhados por cinco anos para que seja testada a eficácia do produto.

 

“É ume estudo cego. A gente não sabe quem tomou a vacina ou o placebo, assim como quem se voluntaria também não tem essa informação”, descreve a médica, detalhando também o grande número de pessoas que se dispuseram.

 

O estudo está em curso desde 2016 e ainda não há uma data para que a vacina desenvolvida possa estar nos centros de distribuição da rede pública de saúde. De acordo com Boaventura, o prazo limite para que seja concluído o período de observação do último grupo de voltuntários que entrou no estudo é em 2024. A partir desse marco, a equipe ainda deve esperar para entrar com o pedido de análise final na Anvisa.

 

O prazo é diferente do visto durante a produção do imunizante contra o coronavírus, por exemplo. “O processo todo foi acelerado para a [vacina] da Covid-19 porque o número de casos, obviamente, ‘facilitou’ a aprovação. Você rapidamente consegue, com o número alto de pessoas infectadas, mostrar se houve ou não uma proteção com a vacina. Com a dengue não há a mesma velocidade, já que a dengue ocorre, de maneira mais incidente, durante ciclos de infecção”, esclarece a cientista.

 

Na etapa anterior, a fase 2, a vacina em desenvolvimento se mostrou segura e eficaz. O que possibilitou aos pesquisadoes o avanço para o passo seguinte. “Ainda não temos dados preliminares da terceira etapa porque geralmente não se faz essa análise com muita antecedência [durante essa fase]. A gente tem que esperar o número de eventos e análises pré-programadas para essa avaliação”, acrescentou Viviane Boaventura.

 

Espera-se que os indivíduos que tomaram a vacina estejam protegidos dos quatro tipos de dengue, inclusive a forma mais grave dela, a hemorrágica – causada quando o paciente já foi acometido por múltiplas infecções.

 

As regiões em que a dengue é endêmica, ou seja, ocorre de maneira habitual e com uma incidência significativa, são consideradas como vetores prioritários de aplicação para a vacina estudada pelo Butantan.

 

“Temos regiões do Brasil que há uma frequência da dengue. A gente já sabe, por exemplo, que no período do verão vai ter uma epidemia de dengue. Às vezes a força da epidemia muda, de acordo com os anos, mas geralmente acontece. É clássico, porque você tem ali a chuva, depois o período de sol e ficam os ovos do Aedes aegypti”, descreveu.

 

O mecanismo de ação dela é o vírus atenuado. Assim que é injetada no corpo do indivíduo, o agente patogênico enfraquecido, incapaz de causar infecção, age para que seja dado um estímulo ao sistema imunológico para que ele possa se defender. Se comprovada a proteção efetiva, ela será uma resposta de grande aplicabilidade, acreditam os pesquisadores envolvidos. 

 

Apesar de promissora, a vacina ainda não será capaz de tornar o país uma zona livre da dengue. “A expectativa não é de erradicar a dengue, porque ela é endêmica no nosso meio e tem uma série de características que dificilmente a gente conseguiria erradicá-la, mas o grande foco da vacina é, primeiro, reduzir o número de infecções e, assim, diminuir a mortalidade causada pela dengue hemorrágica”, finalizou a imunologista entrevistada.

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