Witzel pediu vaga no STF para resolver rachadinha de Flávio, diz Bolsonaro em reunião

Durante a reunião em que discutiu estratégias para anular o inquérito das ‘rachadinhas’, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel tentou negociar uma vaga no Supremo Tribunal Federal em troca de “resolver” a investigação que mirava o senador Flávio Bolsonaro, filho 01 do ex-chefe do Executivo. O ‘Estadão’ procura Wilson Witzel para que ele se manifeste.

 

“O ano passado, no meio do ano, encontrei com o Witzel, não tive notícia [inaudível] bem pequenininho o problema. Ele falou, resolve o caso do Flávio. Me dá uma vaga no Supremo”, relatou Bolsonaro no encontro, realizado um mês depois da prisão de Fabrício Queiroz, peça-chave na investigação sobre as rachadinhas.

 

Em nota, Wilson Witzel diz que Bolsonaro “deve ter se confundido” e que “não foi a primeira vez” que mencionou conversas que eles nunca tiveram, “seja por confusão mental, diante de suas inúmeras preocupações, seja por acreditar que eu faria, a nível local, o que hoje se está verificando que foi feito com a Abin e Policia Federal” (veja a íntegra da nota abaixo).

 

As advogadas de Flávio Bolsonaro apontaram que Witzel tinha a “Polícia Civil na mão”. Em seguida, Augusto Heleno e Bolsonaro disseram a mesma frase: “Sede de poder”. “Então, você sabe o que vale você ter um ministro irmão teu no Supremo”, completou o então presidente. Em seguida, Bolsonaro esclarece que a vaga seria para o juiz Flávio Itabaiana, que foi responsável pelo caso Queiroz.

 

Após a divulgação do áudio, o assessor e advogado de Bolsonaro Fabio Wajngarten saiu em defesa do ex-presidente, dizendo que a conversa “só reforça o quanto o presidente ama o Brasil e o seu povo”. Ele citou especificamente um trecho retirado do áudio no qual Bolsonaro diz que não estaria procurando o favorecimento de ninguém.

 

A gravação da reunião faz parte dos autos da Operação Última Milha, que desmontou a Abin paralela, grupo instalado na Agência Brasileira de Inteligência durante o governo Bolsonaro. Nesta segunda, 15, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, levantou o sigilo do áudio.

 

O teor da conversa indica que o ex-presidente e o então diretor da Abin, delegado Alexandre Ramagem, planejaram uma forma de emparedar a investigação sobre Flávio Bolsonaro e a ‘rachadinha’.

 

O general Augusto Heleno, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), também participou do encontro, ocorrido em agosto de 2020, um mês depois da prisão de Fabrício Queiroz – ex-assessor de Flávio – no escritório do advogado Frederick Wassef, em Atibaia, na Grande São Paulo.

 

Veja a íntegra da nota de Wilson Witzel:

 

“Nunca mantive qualquer relação pessoal ou profissional com o juiz Flavio Itabaiana e jamais ofereci qualquer tipo de “auxílio” a qualquer um durante meu governo.

 

O Presidente Jair Bolsonaro deve ter se confundido e não foi a primeira vez que mencionou conversas que nunca tivemos, seja por confusão mental, diante de suas inúmeras preocupações, seja por acreditar que eu faria, a nível local, o que hoje se está verificando que foi feito com a Abin e Policia Federal. No meu governo a Polícia Civil e militar sempre tiveram total independência e os poderes foram respeitados. A história e tudo o que aconteceu comigo comprovam isso”.

 

Pepita Ortega/Estadão

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