Trump gasta menos do que Kamala com TV e redes sociais, exceto o X

O valor investido por democratas em anúncios na Meta foi dez vezes maior do que o gasto por Donald Trump, segundo relatório feito pelo Instituto para Democracia, Jornalismo e Cidadania da Universidade de Syracuse.

Entre setembro de 2023 e agosto deste ano, Joe Biden e Kamala Harris gastaram US$ 50 milhões com propaganda no Facebook e no Instagram. Já o empresário gastou US$ 5 milhões.

A diferença substancial chama a atenção após a centralidade que o Facebook teve na campanha do republicano em eleições anteriores. De junho a novembro de 2016, ele investiu US$ 55 milhões em anúncios na rede. Em 2020, foram US$ 106 milhões no mesmo período. Ambas as cifras foram corrigidas pela inflação.

Segundo a coordenadora da pesquisa da Syracuse, a expert em campanhas políticas e desinformação Jennifer Stromer-Galley, não está claro o que levou à mudança de estratégia pelo empresário.

O padrão se repete nas redes do Google (incluindo YouTube) e em propagandas de TV, que concentram o grosso dos gastos em propaganda dos candidatos.

A Pensilvânia, por exemplo, prioridade das duas campanhas, foi inundada com US$ 280 milhões em anúncios de 22 de julho a 8 de outubro, ou 21% de todas as despesas com publicidade em TV, segundo dados da AdImpact para a Forbes. Desse total, Kamala foi responsável por US$ 159 milhões –o equivalente a 57%.

Não há dados do TikTok porque a rede diz que não permite anúncios pagos de conteúdo político.

A única plataforma em que Trump gasta mais do que os democratas é o X, do bilionário Elon Musk –que entrou de cabeça na campanha republicana.

Segundo levantamento feito pelo Washington Post em parceria com a AdImpact, perfis de apoio ao empresário gastaram US$ 3 milhões com promoção de conteúdo político de março a outubro no X. O montante é pequeno, mas, ainda assim, três vezes o valor gasto por apoiadores de Kamala.

O maior comprador de anúncios políticos na rede é a conta oficial de Trump –que ficou meses parada, mesmo após Musk reativá-la quando comprou a plataforma. Já a campanha de Kamala não fez uma única compra na rede, de acordo com o jornal americano.

Uma das possíveis explicações é a diferença no montante de dinheiro em caixa de cada campanha. Biden esteve à frente de Trump em quase todo o período em que foi candidato, sendo ultrapassado apenas no final. Com a substituição por Kamala, as doações para os democratas dispararam, e o republicano ficou para trás novamente.

Segundo dados divulgados pela FEC (a comissão eleitoral federal) na terça (15), os comitês ligados à vice-presidente levantaram US$ 870 milhões entre julho e setembro. Já os ligados ao republicano somaram US$ 366 milhões.

Além disso, Trump tem um gasto extra: suas despesas com a defesa nos diversos processos na Justiça que tramitam contra ele.

“Trump terceirizou grande parte de sua campanha. Há muita coordenação com o Comitê Nacional Republicano. Ele terceirizou o trabalho de campo para Elon Musk e organizações cristãs. Por isso, não está gastando dinheiro no trabalho de campo”, acrescenta Jennifer. “Mas essa diferença [de gastos] gera dúvidas”, completa.

O projeto usa o banco de dados e a análise de tecnologia de grafos da Neo4j, que permitem a identificação de atores, redes e padrões de comportamento. A plataforma foi usada, por exemplo, pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos em 2015 no caso dos Panama Papers.

Golpistas aproveitam eleição para faturar
A pesquisa da Syracuse identificou ainda redes de páginas no Facebook usadas para comprar anúncios que são, na verdade, golpes. Em conjunto, esses perfis gastaram US$ 5 milhões. As duas principais são “Liberty Defender Group” (cuja conta principal foi removida pela rede) e “Prosperity Prayers”.

Um desses anúncios é um vídeo com ataques a Kamala e defesa de Trump, associando falsamente imigrantes a “crimes terríveis”. Ao final, o apresentador do vídeo pede aos espectadores que cliquem no link para responder a um questionário e ganhar uma bandeira da campanha de Trump. O formulário pede, entre outros dados, o cartão de crédito da pessoa.

Nas letras miúdas, explica-se que a pessoa concorda com a cobrança de US$ 79,97 por mês para fazer parte do “Clube do Americano Patriota”.

“Esses golpes com frequência começam com um trechos e um vídeo de Trump na Fox News, ou de Eric Trump dizendo quão burra Harris é, que ela não é apta para ser presidente. E aí depois muda para um vídeo às vezes com vozes geradas por inteligência artificial, às vezes por vozes humanas”, diz Jennifer. “Aí eles prometem um boné Make America Great Again, por exemplo.”

Do ponto de vista do usuário, um problema é que as campanhas presidenciais, principalmente a de Trump, estão de fato anunciando sorteios e prêmios. Nas últimas semanas, Elon Musk disse que pagaria R$ 47 para cada pessoa que indicar o contato de um eleitor indeciso num estado-pêndulo.

“Eles são legítimos, não são golpes, mas como a linguagem parece muito a de golpe, acho que os usuários de redes sociais têm dificuldade para diferenciar”, diz a especialista.

 

Fernanda Perrin/Folhapress

Deixe sua avaliação!

Mais Notícias de Destaques