Visões ideológicas dividem votações da Câmara dos Deputados
BrasilFoto: Dida Sampaio / Estadão
Basômetro mostra que, com fim de coalizões entre partidos de perfis diferentes, pleitos ficaram marcados por polos de direita e esquerda
Com o fim do presidencialismo de coalizão, representado pela eleição de Jair Bolsonaro (PSL), as votações na Câmara dos Deputados têm sido marcadas pela clivagem ideológica: direita de um lado, esquerda de outro. É a primeira vez que isso acontece desde 2003, segundo análise feita com dados do Basômetro, ferramenta do Estado que mede o governismo de partidos e parlamentares. Nos governos do PT, tanto Luiz Inácio Lula da Silva quanto Dilma Rousseff cooptaram partidos de centro-direita com a distribuição de ministérios e outros cargos. Como contrapartida, essas legendas apoiavam projetos de interesse do Executivo no Congresso. Nos cinco primeiros meses do segundo mandato de Lula, por exemplo, partidos de perfil conservador como PMDB, PTB e PP tiveram taxa de governismo superior a 90%, desempenho similar ao de legendas mais à esquerda, como PSB e PDT. O governismo foi medido a partir dos dados que alimentam o Basômetro, ferramenta criada pelo Estadão Dados em 2012 e relançada no último domingo, em parceria com a equipe de infografia. A base de dados registra tudo o que aconteceu no plenário da Câmara desde 2003: 844 mil votos de 1.811 deputados em 2.427 votações. Mesmo no período em que Michel Temer (MDB) governou, após o impeachment de Dilma, as linhas ideológicas da Câmara eram difusas. Nos primeiros cinco meses de Temer, por exemplo, PSB e PDT, dois partidos de centro-esquerda, votaram 93% e 70% das vezes alinhados com o Palácio do Planalto, respectivamente. Bolsonaro qualifica o modelo do presidencialismo de coalizão como “velha política”, e afirma que não dará ministérios em troca de votos. Mesmo sem pertencer formalmente à base, porém, os partidos cujo viés ideológico vai do centro à direita têm votado de forma parecida, com alta taxa de apoio ao governo. Bolsonaro conta com 13 legendas que lhe dão mais de 90% dos votos alinhados com o que orienta. O PSL, partido do presidente, vota totalmente de acordo com o governo quando é orientado a fazê-lo. O Novo, alinhado com a política econômica, deu 99% dos votos segundo a orientação. Também estão na lista dos mais fiéis DEM, Progressistas, MDB e PL.
Estadão