Lafer diz que fala de Lula sobre Holocausto foi insensível e prejudica atuação do Brasil no mundo
BrasilO ex-chanceler Celso Lafer afirma que a comparação feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entre as ações de Israel na Faixa de Gaza e o Holocausto mostra falta de sensibilidade em relação ao que foi o extermínio de judeus pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial, destoa da história da diplomacia nacional e pode prejudicar as relações internacionais do Brasil.
Lafer falou com o Painel após participação na cerimônia de posse de Aldo Rebelo como secretário de Relações Internacionais e de Renato Nalini como secretário de Mudanças Climáticas da gestão Ricardo Nunes (MDB), em São Paulo, nesta segunda-feira (19).
“A diplomacia se faz com gestos e palavras. E os conceitos têm significado. Quando o presidente [Lula] equaciona a conduta de Israel na guerra ao Holocausto e ao genocídio, não só há um deslize no uso da palavra, mas há também algo que corresponde a uma insensibilidade profunda em relação ao que foi o Holocausto”, afirmou Lafer, que serviu como ministro das Relações Exteriores em 1992 e de 2001 a 2003.
“Há outros assuntos que podem ser discutidos, mas a maneira pela qual ele [Lula] tratou do assunto foi uma que não corresponde à tradição da diplomacia brasileira e compromete a capacidade do presidente e do Brasil de atuarem no plano internacional. O Brasil não ganha nada com a manifestação, que não corresponde aos fatos, aos valores e à sensibilidade”, completou.
Na semana passada, Lafer enviou uma carta a Mauro Vieira, atual ministro das Relações Exteriores, em que questionou a decisão do Brasil de dar apoio à denúncia da África do Sul na Corte Internacional de Justiça da ONU contra Israel. Segundo a acusação, Israel comete genocídio contra o povo palestino em Gaza.
Segundo o ex-chanceler, a definição de genocídio estabelece com clareza que é a intenção de destruir em todo ou em parte um grupo. “Não é essa a intenção da conduta de Israel”, avalia.
Lafer diz que a reação de Israel, que declarou Lula “persona non grata” nesta segunda-feira, foi “movida pelas emoções”.
“E pelo fato de que, como o próprio primeiro-ministro [Binyamin Netanyahu] disse, o presidente Lula ultrapassou a linha vermelha do moralmente aceitável, e aí você naturalmente teve uma reação que não foi diplomática, mas foi emocional. Que corresponde em intensidade aos sentimentos que a declaração dele [Lula] trouxe”, conclui.
Guilherme Seto/Folhapress