Comandante da Marinha resiste, mas aceita troca de chefia após posse de Lula
O Alto Comando da Marinha, em reunião na última quinta-feira (22), conseguiu dissuadir o comandante Almir Garnier de realizar a troca no comando da força antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Até então, a ideia de Garnier era realizar a passagem da chefia na semana que vem.
A sugestão de antecipar a troca nos comandos foi feita em novembro ao presidente Jair Bolsonaro (PL), tinha anuência dos chefes das três Forças e era patrocinada pelo comandante Baptista Júnior, da Aeronáutica, considerado o mais bolsonarista entre os mandatários.
Com os acenos do futuro ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, de que fará uma gestão pacífica com as Forças, as cúpulas de Exército e Aeronáutica decidiram na primeira quinzena de dezembro retroceder na ideia e preparar as solenidades para o início da gestão Lula.
Garnier foi o último a se conformar com a possibilidade de ser comandante da Força durante a posse do petista.
O comandante participou na última quinta da reunião do Conselho de Almirantes, no Rio de Janeiro, encontro que ocorre tradicionalmente na véspera ou antevéspera de Natal e reúne todos os almirantes quatro estrelas da ativa, que compõem o Alto Comando da Marinha.
Segundo relatos feitos à Folha, o comandante da Marinha disse que estava decepcionado com a vitória de Lula, razão pela qual gostaria de entregar o cargo antes da posse.
Apesar da vontade pessoal, de acordo com uma pessoa presente na reunião, Almir decidiu submeter a decisão ao Alto Comando da Força.
A avaliação majoritária na cúpula da Marinha é que a manutenção da tradição, com a passagem de comando da Força em janeiro, seria o menos traumático para o almirantado, considerando que o escolhido por Múcio para a sucessão, o almirante Marcos Sampaio Olsen, tem a confiança dos colegas.
Com a decisão, ficou pré-agendado para o dia 5 de janeiro a passagem de comando da Marinha.
Garnier também foi aconselhado por aliados, ao longo da semana, a repensar seu posicionamento. O almirante está há mais de 50 anos na Marinha, e uma encerrar sua carreira com uma postura que pode ser interpretada como insubordinação, única na história da força, seria muito ruim.
A sugestão de antecipar a passagem de comando gerou mal-estar entre as Forças Armadas e aliados de Lula, que viam no movimento uma declaração de insubordinação.
Em reação, Lula acelerou a escolha do ministro da Defesa e antecipou o anúncio dos oficiais-generais que vão assumir o comando das Força a partir de janeiro.
Foram escolhidos os oficiais mais antigos de cada Força: Júlio César de Arruda (Exército), Marcos Sampaio Olsen (Marinha) e Marcelo Kanitz Damasceno (Aeronáutica).
O almirante de esquadra Renato de Aguiar Freire ficará com a chefia do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. Ele substituirá o general Laerte de Souza Santos, e a escolha segue o critério de rodízio entre Exército, Marinha e FAB (Força Aérea Brasileira).
Com as sinalizações de Lula e Múcio, o Alto Comando do Exército se reuniu na primeira semana de dezembro e concluiu que o chefe da Força, general Freire Gomes, não deveria antecipar a passagem de comando.
Nesta sexta-feira (23), em mensagem de Natal aos oficiais, o comandante afirmou que hierarquia, disciplina e coesão do Exército foram testadas neste ano.
“Em um ano como de 2022, esses valores foram mais uma vez postos à prova e mostraram para toda a sociedade que o Exército brasileiro continua forte, disciplinado e unido em prol do nosso Brasil”, disse.
“Parabéns pelos resultados obtidos neste exitoso ano. Com forte sentimento de missão cumprida, desejo a todos um Natal repleto de alegrias e boas memórias, e um 2023 cheio de paz, união, liberdade e realizações. Brasil acima de tudo”, completou.
O comandante da FAB, Baptista Júnior, também foi convencido a manter a tradição e entregar o cargo após a posse do presidente eleito. A data oficial foi marcada para 2 de janeiro.
Cézar Feitoza e Marianna Holanda/Folhapress