PSD de Kassab representa força local por trás da campanha de Tarcísio

Brasil

Antes desconhecido da maioria do eleitorado, o candidato ao Governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem como principal articulador nos bastidores da campanha um velho conhecido dos paulistas, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD).

Logo após o resultado do primeiro turno, que confirmou o favoritismo de Tarcísio, Kassab iniciou o trabalho de reunir apoios de prefeitos, até então empenhados em eleger Rodrigo Garcia (PSDB), que ficou em terceiro lugar com 18,4% dos votos.

A Folha teve acesso a um relatório interno feito pela equipe de Tarcísio no qual aponta que ele contaria com adesão de 309 prefeitos paulistas, e o presidente Jair Bolsonaro (PL), fiador do ex-ministro, com 224.

A articulação tem sido feita ao lado do presidente do Republicanos, o deputado federal Marcos Pereira, do pastor Everaldo Pereira, presidente do PSC, e do deputado federal Guilherme Mussi (PP).

Antes mesmo de o PSDB declarar apoio à candidatura de Tarcísio, um integrante da executiva nacional do partido, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, foi recebido na casa de Kassab para gravar vídeo que selou sua adesão à campanha do ex-ministro. A mulher do prefeito, a recém-eleita deputada Carla Morando (PSDB), também estava presente.

Sob orientação de Kassab, no interior, a costura de adesões tem sido liderada pelos prefeitos de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), de Campinas, Dário Saad (Republicanos), de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB), e de Limeira, Mário Botion (PSD). “Eles funcionaram como coordenadores regionais neste segundo momento em busca de apoio”, diz o candidato a vice de Tarcísio, Felício Ramuth (PSD).

Com a organização dos tais coordenadores regionais, Tarcísio se reuniu no segundo turno com 24 prefeitos do Vale do Paraíba e do litoral norte e até semana que vem terá encontro com outros 31 de cidades na região de Sorocaba e Ribeirão Preto.

O empenho dessas lideranças é tido como reforço de peso para virar votos na cidade. Além de o prefeito evidenciar o seu voto e exibir Tarcísio em suas redes sociais, a máquina municipal se dispõe a inflar eventos da campanha como carreatas e comícios. Em Ribeirão Preto, por exemplo, Duarte Nogueira diz que haverá colocação de adesivos em carros com a foto do ex-ministro.

“Como coordenador regional convocamos os 34 prefeitos da região metropolitana de Ribeirão, a maioria deverá apoiar Tarcísio. O Haddad demonstrou a sua incapacidade para entregar resultados na cidade de São Paulo”, disse Duarte Nogueira, que no primeiro turno foi um fervoroso cabo eleitoral de Rodrigo Garcia.

Para convencer os prefeitos, Tarcísio tem prometido dar sequência aos convênios e executar os contratos firmados entre o município e a gestão tucana. “[A mudança] pode causar um temor de como fica o meu projeto. A obra vai andar, o ambulatório vai ficar sair, a vicinal continuará sendo pavimentada”, afirma o candidato.

Além dos prefeitos, a campanha teve a adesão de mais cinco partidos desde a primeira semana do segundo turno. Com isso, caso seja eleito, ele pode ter apoio de pelo menos 52 do total de 94 deputados da Assembleia Legislativa de São Paulo.

Empenhado em lançar um candidato próprio ao governo do estado nestas eleições, Kassab demoveu da ideia no momento em que Tarcísio foi confirmado pelo Republicanos como concorrente ao Palácio dos Bandeirantes, no fim de junho.

Naquele momento, Tarcísio aparecia em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de votos, atrás de Fernando Haddad (PT) e de Márcio França (PSB), que desistiu da candidatura para concorrer ao Senado. Tarcísio, porém, já aparecia na frente de Rodrigo. “Sempre soube do potencial de Tarcísio para vencer essas eleições”, afirmou Kassab.

A chapa liderada por Tarcísio foi uma das primeiras a definir o vice, Felício Ramuth, ex-prefeito de São José dos Campos, que trocou o PSDB pelo PSD no início deste ano para disputar as eleições, a princípio, como candidato ao Governo de São Paulo.

A ideia original de Kassab, porém, era fazer aliança com o PSB para lançar Geraldo Alckmin ao governo. A tentativa foi descartada após aproximação de Alckmin com Haddad que o levou a aceitar o cargo de candidato a vice-presidente de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Além da indicação do vice, o partido de Kassab foi responsável por escalar os especialistas que elaboraram o plano de governo da campanha liderados por outro velho conhecido dos paulistas, o ex-vice-governador do estado Guilherme Afif Domingos (PSD).

Nos bastidores, cogita-se que o empenho de Kassab para eleger Tarcísio tenha tido como motivação uma mágoa do ex-governador João Doria (PSDB) e do atual, Rodrigo. Kassab foi nomeado secretário-chefe da Casa Civil na gestão Doria, mas passou dois anos afastado do cargo após ter sido investigado por suspeitas de corrupção.

Ele foi alvo de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal por suspeita de receber R$ 58 milhões da JBS entre 2010 e 2016. O ex-ministro nega as acusações e argumentou que as empresas citadas na denúncia prestaram serviço à JBS.

Após deixar o cargo, Kassab deflagrou investidas para convencer prefeitos tucanos em São Paulo descontentes com a escolha de Doria como candidato à Presidência da República a se filiarem ao PSD.

Kassab, porém, nega qualquer sentimento de vingança. “Sou amigo pessoal do Doria”, disse.

Já Rodrigo, que passou o primeiro turno direcionando ataques a Tarcísio e, somente depois da derrota, lançou apoio ao candidato dos Republicanos, foi de sócio nos negócios a inimigo de Kassab na política.

Na sua fracassada tentativa de reeleição, Rodrigo associou no horário eleitoral o candidato Tarcísio, de forma pejorativa, a Kassab, Eduardo Cunha (PTB) e o deputado Frederico D´Ávila (PL), que já xingou o papa Francisco.

Rodrigo e Kassab se conheceram nos anos 1990 e deram início a campanha que levou o primeiro a ser eleito deputado estadual e o segundo à Câmara dos Deputados. Também, em 1998, Kassab passou a ser um dos sócios da Centroeste, empresa da família de Rodrigo. No entanto, ambos brigaram em 2011 e não se falam até hoje.

 

Carlos Petrocilo e Mariana Zylberkan/Folhapress

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