Zé Trovão diz que era ‘leigo’ e ‘não tinha conhecimento’ quando pediu intervenção militar

Brasil

Após pedir intervenção militar e atacar o STF (Supremo Tribunal Federal) com o pedido de impeachment de ministros para impulsionar os atos bolsonaristas no 7 de Setembro de 2021, Marcos Antônio Pereira Gomes, o Zé Trovão, será deputado federal pelo PL de Santa Catarina.

Ainda com a tornozeleira na perna direita, ele agora ajusta seu discurso sobre o uso das Forças Armadas e diz ter decidido seguir a carreira política após o ministro Alexandre de Moraes, do STF, ordenar sua prisão.

“Eu decidi que eu concorreria as eleições logo após ter sido preso em Joinville (SC). Há pouco mais de um ano venho me informando para entender como funcionam as coisas dentro de Brasília”, afirma.

Ele será um dos integrantes da base mais ideológica e fiel ao presidente Jair Bolsonaro (PL) no Congresso com os 71.140 votos angariados mesmo proibido por Moraes de acessar às redes sociais. Com o ministro, o caminhoneiro agora tenta a liberação do uso da tornozeleira, que limita sua movimentação a Santa Catarina.

Na nova posição de deputado eleito, Zé Trovão relaciona sua manifestação à época em frente a um batalhão do Exército em Joinville defendendo a intervenção militar ao fato de ser, naquele momento, um “cara extremamente leigo”, que via no uso das Forças Armadas “o caminho para a gente manter a democracia”.

“De lá para cá, estou me preparando, buscando informações, tentando entender e entendendo aquilo que é importante para o Brasil. Porque não adianta ficar na rua balançando bandeira, gritando uma coisa sem ter conhecimento de causa”, afirma.

Trovão, que antes mobilizou caminhoneiros para se posicionar contra o STF, agora também modula o tom de sua fala sobre os ministros, mas aponta para a possibilidade dos apoiadores de Bolsonaro eleitos senadores tomarem “providências” em caso de “ultrapassadas das quatro linhas”.

A expressão sobre jogar dentro quatro linhas da Constituição Federal é sempre utilizada por Bolsonaro para se referir a ações de ministros do STF.

“Eu acho que chegou o momento em que ambos os Poderes têm que se posicionar e dizer: vamos seguir a nossa linha”, afirma. “Acredito que a coisa tem que ir de uma maneira diferente. Se continuar essas essas ultrapassadas das quatro linhas, vai ficar complicado, né? Porque daí os senadores que fazem parte da base aliada vão tomar as providências.”

Na próxima legislatura, a bancada do PL será a maior do Congresso, tendo eleito 99 deputados e 14 senadores.

Embora tenha ele mesmo pedido “contagem pública dos votos” e seu partido tenha contratado uma empresa para produzir um relatório para questionar as urnas às vésperas do 1º turno, o caminhoneiro agora evita os ataques ao sistema eleitoral e diz caber à PF a fiscalização da segurança do processo.

“Agora é aguardar [o resultado das eleições]. Eu não posso me ater à função de outras pessoas, porque daí eu posso cometer um crime. Eu não quero ser uma pessoa que fale pelos cotovelos, eu vou esperar todos os resultados de todas as investigações que forem necessárias”, afirma.

Em vez de atacar as urnas, Zé Trovão diz que a “fraude mais perigosa” para a reeleição de Bolsonaro no segundo turno é a abstenção. Ele classifica como “irresponsáveis” os mais de 30 milhões de brasileiros que não foram votar no primeiro turno.

O seu tom segue o de antes, no entanto, quando o assunto é Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Diz que nunca integraria a base do petista na Câmara e que Lula merece “uma passagem direta para cadeia”.

“Se eu tiver com o meu pescoço amarrado numa corda à beira de um abismo e a única coisa que salve a minha vida for apoiar o Lula, eu prefiro perder o pescoço”, diz.

Sobre a política de preços dos combustíveis sob Bolsonaro, muito atacada por seus colegas caminhoneiros, Zé Trovão defende a privatização da Petrobras e repassa ao governo Michel Temer a culpa pelo aumento dos preços.

Questionado sobre qual lado ficará em caso de uma greve dos caminhoneiros, o futuro deputado argumenta que atuará para evitar esse cenário, mas indica se posicionar com os colegas em caso de um desfecho nesse sentido.

“Nós temos que trabalhar para que isso [uma greve dos caminhoneiros por conta do alto preço dos combustíveis] não aconteça, mas se um dia os caminhoneiros precisarem parar por falta de condição de trabalho, eu não vou poder me abster”, afirma.

 

Fabio Serapião e João Gabriel, Folhapress

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