Bahia só vacinou 55% do público-alvo contra sarampo neste ano; Sesab aponta riscos
Bahiapor Jade Coelho
A pandemia agravou um problema que já vinha sendo enfrentado pelo Brasil e pela Bahia nos últimos anos: a baixa adesão à vacinação. Dados parciais da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) mostram que aqui, há um mês do fim do ano, apenas 55% da população que deveria ser vacinada contra o sarampo compareceu aos postos e recebeu o imunizante.
Como consequência desse comportamento de não vacinados está o aumento dos chamados “bolsões suscetíveis”. O termo técnico diz respeito ao acúmulo de pessoas sem a devida proteção. “Se o vírus é introduzido aqui, rapidamente eclode um surto ou epidemia”, adverte o coordenador de Imunização da Sesab, Ramon Saavedra.
“A adesão ficou ainda menor no inicio da pandemia. A gente publicou na Sesab um documento para incentivar vacinação no contexto da pandemia, tentando trazer ambiente seguro e buscar estratégias alternativas de vacinação para garantir a proteção da população. Mas é um desafio enorme porque a gente vê pelos indicadores que a cobertura vacinal está em queda. Significa que estamos acumulando pessoas que estão ficando vulneráveis”, disse Saavedra.
A vacina contra o sarampo protege também da rubéola e caxumba e, por isso, é chamada de “tríplice viral”.
O vírus do sarampo segue se espalhando no Brasil neste ano, enquanto as atenções da população estão voltadas para o coronavírus. Até o mês de outubro o país somou 16.290 casos e sete mortes por sarampo. O dado consta em boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. Ao olhar o mapa do Brasil, 21 estados registraram casos da doença neste ano. Desses, 17 interromperam a cadeia de transmissão do vírus, e quatro mantêm o surto ativo: Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Amapá. A Bahia registrou sete casos em 2020. A doença não causou mortes no estado.
A última vez que a Bahia atingiu a meta de vacinação, de 95% da população, foi em 2014. De lá para cá o estado até tem se esforçado, mas segue sem conseguir vacinar o número considerado ideal, admite Saavedra. O cenário vivido aqui não é isolado, já que a Bahia segue a tendência nacional. De acordo com ele, ao observar a série histórica desde 2009, o país bateu a meta da vacinação da tríplice viral até 2016 initerruptamente, mas desde então tem se mantido abaixo do percentual alvo.
O coordenador acredita que redução da adesão às vacinas é multifatorial e perpassa por questões para além da saúde, mas entre esses fatores está a falsa sensação de segurança, “justamente por não ter mais a doença”.
“O Brasil tem um programa de imunização referência internacional. É um modelo eficaz que tem tudo pra dar certo, mas atualmente tem alguns entraves, é uma situação multifatorial. É um problema social essa falta de crença pela vacina. O país tinha a cultura da imunização, houve descolamento, acabou sendo questão social, até de política talvez. É um desafio de toda sociedade”, analisou.
Diante disso a Sesab elaborou um plano estadual de melhoria de cobertura vacinal. A secretaria realizou reuniões remotas com os 16 maiores municípios da Bahia, em uma tentativa de intensificar ações e os registros de vacinação.
O sarampo é uma doença viral, infecciosa aguda, transmissível e extremamente contagiosa. É grave, principalmente em crianças menores de cinco anos de idade, pessoas desnutridas e imunodeprimidas.
Na Saúde baiana a Diretoria de Vigilância Epidemiológica atua em duas frentes no combate ao sarampo. A primeira é a da imunização, que tem como objetivo prevenir. E há ainda a vigilância de casos suspeitos da doença, que sensibiliza toda a rede de assistência para suspeitar de possíveis casos.
A vacina contra o sarampo é segura, e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).
O boletim do Ministério da Saúde informa que os estados do Pará, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Amapá concentram o maior número de casos confirmados. São 7.984 (96,7%).
Em relação às mortes, foram sete em todo o país, registradas nos estados do Pará (5), Rio de Janeiro (1) e São Paulo (1).
O sarampo matou mais de 207 mil pessoas no mundo somente no ano passado. O número representa um crescimento de 50% em quatro anos, conforme dados do relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em conjunto com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos (leia mais aqui).
O Brasil perdeu em 2019 a certificação de erradicação do sarampo concedido pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) após registrar um caso endêmico no Pará (saiba mais aqui e aqui).