Por protagonismo negro na televisão, TVE Bahia e Trace Brazuca lançam programação compartilhada
Bahiapor Bruno Leite
Uma nova leva de atrações protagonizadas e produzidas por pessoas negras vai estrear na tela da TVE Bahia a partir do próximo dia 1º de novembro. A novidade foi possibilitada através de uma parceria entre a televisão pública do estado e o canal a cabo Trace Brazuca e conta com a exibição de shows, programas, filmes e documentários que integram a programação de cada uma das emissoras.
De acordo com o diretor do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb), Flávio Gonçalves, essa é uma estratégia de valorizar o que melhor representa a Bahia, que é a diversidade e os artistas baianos.
“Como a grande maioria da população baiana é negra, temos exatamente esse compromisso: o de dar visibilidade para uma população que é maioria no estado. Queremos, ao mesmo tempo, dar espaço para essa produção que é feita por profissionais baianos negros e também permitir aos baianos que não são artistas, não estão na tela da TV, se sintam representados ao verem essas pessoas. Acho que são esses os dois principais objetivos. E isso é algo que não está tão presente nas televisões de modo geral”, comenta o jornalista.
Flávio Gonçalves, diretor do Irdeb | Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias
Ao mesmo tempo que é uma estratégia de visibilidade, é uma estratégia de alcance da juventude e de ocupação da grade de programação. “Nós queremos, do ponto de vista de grade de programação, oferecer [conteúdo] principalmente ao público jovem, porque essa parceria com a Trace tem como foco principal a juventude e nós entendemos que ela merece uma programação de qualidade”, explica Flávio, ressaltando que há pouca visibilidade de jovens na telinha e, quando há uma aparição, a forma como é exibida é a partir de estigmas.
A proposta inicial prevê a exibição de mais de 50 horas de conteúdo por mês. O formato é de uma colaboração mútua. A emissora baiana vai exibir os programas cedidos pela Trace e o canal pago irá colocar no ar as produções cedidas pela televisão pública estadual.
Considerada desde 2016 como a emissora oficial da Década Internacional Afrodescendente (2015-2024) no estado, a TVE se coloca, na visão do seu diretor, em um local diferenciado na radiofusão baiana.
“Não todas, mas a falta do protagonismo da população negra na tela das TVs aqui da Bahia é algo que é só você trocar de canal e vai ver, seja como profissionais na frente ou como fonte. Temos fontes brancas, profisisonais brancos… Aqui na TVE não, temos profissionais que aparecem no vídeo e são afrodescendentes. E também do ponto de vista de fontes e de conteúdos, também exibimos muito conteúdo afrodescendente”, explana, considerando que tal situação é um sintoma do racismo.
“Isso [a presença de pessoas negras na tela] é uma constante na TVE porque temos o compromisso de combater o racismo, porque entendemos que para combater o racismo é preciso não só falar sobre o racismo, mas é importante trazer o protagonismo da população afrodescendente. Na medida que essa população, cada vez mais, aparecer na tela da TV, a tendência é que o racismo também diminua, porque é um processo cultural”, pontua.
Parte da equipe da Trace Brazuca | Foto: Divulgação
Apesar de admitir que a audiência não seja o propósito primário de uma TV pública, Flávio Gonçalves avalia que as parcerias recentes e as ações de interiorização da produção e da transmissão do conteúdo gerado pela TVE Bahia têm feito com que a audiência aumente. A identificação do público com as pautas e os rostos seriam, na sua opinião, aspectos de atração dessas pessoas que passaram a assistir o canal com mais frequência.
“É conteúdo de música, de política, de cidadania, de esporte. Tudo isso tem a ver com a Bahia. Nas redes sociais hoje temos 600 mil seguidores, cresceu muito, e na própria televisão também – até porque nossa presença no interior aumentou. Hoje nós temos praticamente mais de 10 milhões de pessoas com o sinal digital, antes eram 4 milhões, e isso significa que [hoje] nós temos potencial de audiência maior”, afirma.
“O primeiro passo foi ampliar esse sinal digital para todo interior da Bahia e agora com esse conteúdo da Trace não temos dúvida de que, aliado aos outros conteúdos, a tendência é que a audiência cada vez mais aumente. Essa parceria com a Trace é uma estratégia de ter mais diversidade e buscar audiência, porque ela é fundamental para dar legitimidade para a TVE. Não queremos que seja uma TV que ninguém assista. Acho que a TVE tem de tudo para ser líder de audiência”, diz otimista.
Para o jornalista e diretor do Irdeb, a política de interiorização, de identificação e de ampliação do conteúdo seguem premissas que definem o DNA da TVE Bahia. Ou melhor, de uma política: a de integração e de divulgação do estado para os próprios baianos.
E, quando perguntado sobre possíveis projetos de dinamização da rádio, ele justifica dizendo que a ideia é justamente a mesma, mas com outra pegada. Segundo ele, a interiorização do conteúdo da Educadora FM gira em torno de projetos como o Festival de Música Educadora FM – que além de premiar artistas, conta com a reprodução de 50 canções de músicos de todo o estado da Bahia – e a implementação recente do aplicativo Educadora Play.