Palco de suposta fraude em cartão de Bolsonaro foi ‘capital do negacionismo’

Brasil

A prefeitura usada, segundo a Polícia Federal, para concretizar a fraude no cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi a “capital do negacionismo” no Rio de Janeiro durante a pandemia de Covid-19, tendo quase sido alvo de uma intervenção estadual na Saúde.

O município de Duque de Caxias (RJ) era comandado por Washington Reis (MDB), aliado de Bolsonaro e atualmente secretário estadual de Transportes e Mobilidade e homem forte da gestão do governador Cláudio Castro (PL).

No início da pandemia, o ex-prefeito afirmou que as igrejas evangélicas ficariam abertas porque a cura do novo coronavírus viria de lá. Meses depois, foi internado num hospital particular da zona sul do Rio de Janeiro por complicações da contaminação da Covid-19. Em 2021, foi acusado de exercício ilegal da profissão ao aplicar pessoalmente vacinas em moradores da cidade.

De acordo com a investigação da PF, a chefe da central de vacinação da cidade, Cláudia Helena Acosta Rodrigues, foi quem retirou do sistema do Ministério da Saúde informações que haviam sido adicionadas do ex-presidente, de sua filha Laura, do tenente-coronel Mauro Cid e de dois familiares do ex-ajudante de ordem da Presidência.

Ela foi ouvida nesta quarta-feira (3) no âmbito da operação que investiga a inclusão de dados falsos de vacinação contra a Covid no sistema do ministério.

O Ministério Público estadual chegou a abrir um procedimento em abril de 2021 para analisar o pedido de intervenção estadual na saúde da cidade após Reis descumprir sucessivas decisões judiciais que determinavam o respeito ao Plano Nacional de Imunização durante a campana de vacinação contra a Covid-19.

De acordo com a Promotoria, a prefeitura não atendeu aos critérios de prioridade definidos pelo Ministério da Saúde na ordem de vacinação. Em vez de realizar a imunização com os moradores mais idosos e com alguma deficiência, o ex-prefeito inaugurou a campanha para todos acima de 60 anos.

A medida gerou filas e aglomerações nos postos de vacinação e, segundo o MP-RJ, gerou falhas na aplicação da segunda dose, necessária para a imunização completa.

Reis também foi acusado de exercício ilegal da profissão por aplicar doses da vacina, mesmo sem ter formação como enfermeiro, médico ou técnico em enfermagem.

As sucessivas falhas levaram a Justiça fluminense a bloquear os bens do ex-prefeito no âmbito de uma ação civil pública, com o objetivo de garantir pagamento de eventual multa aplicada no processo.

Até o início da vacinação, Duque de Caxias, de 930 mil habitantes, ficou marcada como um dos locais com maior disseminação do coronavírus no estado. Foi uma das últimas a decretar o fechamento do comércio e uma das primeiras a acabar com a exigência de uso de máscaras em locais abertos e fechados.

No segundo turno da eleição passada, Bolsonaro teve 58,3% dos votos válidos no município —ante 56,5% no estado e 49,1% obtidos no país.

O ex-prefeito não foi alvo de busca e apreensão na operação sobre a fraude no cartão de vacina nesta quarta. Contudo, um dos investigados é seu irmão, o deputado federal Gutemberg Reis (MDB). Outro aliado de Washington Reis alvo da operação foi o secretário municipal de Governo, João Carlos de Sousa Brecha.

Reis chegou a ser registrado como vice na chapa do governador Cláudio Castro nas eleições do ano passado. Sua candidatura foi vetada pela Justiça Eleitoral em razão da condenação que tinha sofrido no STF (Supremo Tribunal Federal) por crime ambiental.

Mesmo sob risco de prisão em razão da condenação, Reis foi nomeado por Castro como secretário de Transporte e Mobilidade, pasta responsável por investimentos bilionários, como a construção de um metrô leve na Baixada Fluminense.

 

Italo Nogueira/Folhapress

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